07 April 2007

Jolie Holland - Springtime Can Kill You



A Anti Records sabe o que faz. Não só agarrou Tom Waits, Daniel Lanois e Solomon Burke (entre vários outros figurões igualmente respeitáveis) para o seu catálogo, como parece apostada em assegurar a hegemonia no sub-sector das ruivas bem apessoadas, de voz singular e com francamente mais do que apenas talento para a escrita de canções. Por outras palavras, Neko Case e Jolie Holland já lá cantam e, assim de repente, não estou a ver quem possa ter ficado de fora. Este ano, a primeira publicou o muito bom Fox Confessor Brings The Flood e, agora, Holland acrescenta considerável esplendor à glória da valorosa "indie" com Springtime Can Kill You.



Desde Catalpa (as suas "basement tapes" de 2003) e Escondida (2004), a corte de fãs inclui caça de grande porte como Nick Cave e Tom Waits (não, decerto, por solidariedade editorial, que ele não é especialmente dado a isso) o que, só por si, não chegaria como legitimação (Waits, incompreensivelmente, também venera... Daniel Johnston) se a música não tratasse de mostrar os comos e porquês. E demonstra. Muito. Daquela peculiar forma a que só se pode chamar (mas convém utilizar a classificação parcimoniosamente) "intemporal". Sim, Jolie Holland, começou por explicar que não é incompatível escrever textos como "some people say you got a psychedelic presence, shining in the park with a bioluminescence" ou "nobody sings like Mary Sue Bell, nobody prays like Willie McTell, nobody walks a mile in my shoes like I do" e convencer-nos que isso poderia perfeitamente ter saído de um dos "field recordings" de Alan Lomax.



Desta vez, ao terceiro capítulo, nem por um segundo duvidamos que nos encontramos refastelados num qualquer "honky-tonk" do cu-do-mundo-texano, por entre Jacks, Daniels e outros inomináveis, enquanto a miúda da banda que toca como se palitasse os dentes canta por mais um copo. Assim mesmo: folk e country de mangas encardidas, jazz e blues de hálito turvo, valsas e cajun a preto-e-branco-Jarmusch, "I'm flirting with the birds, I'm talking to the weeds, look what you've done to me". E os Jacks, os Daniels e os outros, durante um instante, parecem quase gente. (2006)

1 comment:

Ricky said...

http://blogmanuelino.blogspot.com/