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A Anti Records sabe o que faz. Não só agarrou Tom Waits, Daniel Lanois e Solomon Burke (entre vários outros figurões igualmente respeitáveis) para o seu catálogo, como parece apostada em assegurar a hegemonia no sub-sector das ruivas bem apessoadas, de voz singular e com francamente mais do que apenas talento para a escrita de canções. Por outras palavras, Neko Case e Jolie Holland já lá cantam e, assim de repente, não estou a ver quem possa ter ficado de fora. Este ano, a primeira publicou o muito bom Fox Confessor Brings The Flood e, agora, Holland acrescenta considerável esplendor à glória da valorosa "indie" com Springtime Can Kill You.
Desde Catalpa (as suas "basement tapes" de 2003) e Escondida (2004), a corte de fãs inclui caça de grande porte como Nick Cave e Tom Waits (não, decerto, por solidariedade editorial, que ele não é especialmente dado a isso) o que, só por si, não chegaria como legitimação (Waits, incompreensivelmente, também venera... Daniel Johnston) se a música não tratasse de mostrar os comos e porquês. E demonstra. Muito. Daquela peculiar forma a que só se pode chamar (mas convém utilizar a classificação parcimoniosamente) "intemporal". Sim, Jolie Holland, começou por explicar que não é incompatível escrever textos como "some people say you got a psychedelic presence, shining in the park with a bioluminescence" ou "nobody sings like Mary Sue Bell, nobody prays like Willie McTell, nobody walks a mile in my shoes like I do" e convencer-nos que isso poderia perfeitamente ter saído de um dos "field recordings" de Alan Lomax.
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Desta vez, ao terceiro capítulo, nem por um segundo duvidamos que nos encontramos refastelados num qualquer "honky-tonk" do cu-do-mundo-texano, por entre Jacks, Daniels e outros inomináveis, enquanto a miúda da banda que toca como se palitasse os dentes canta por mais um copo. Assim mesmo: folk e country de mangas encardidas, jazz e blues de hálito turvo, valsas e cajun a preto-e-branco-Jarmusch, "I'm flirting with the birds, I'm talking to the weeds, look what you've done to me". E os Jacks, os Daniels e os outros, durante um instante, parecem quase gente. (2006)
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