DES BANDANAS ET DES T-SHIRTS BEST MONTANA
Vincent Delerm - Kensington Square
Apetece citá-lo descabeladamente. Por exemplo, aqui: "Tu as dit j'écoutais Veruca Salt et Frank Black, j'ai pensé il faudrait lui offrir 10 000 Maniacs". Ou aqui: "Celles qui mettaient des bandanas et des t-shirts Best Montana, celle qui ont porté les baskets Reebok de Rosanna Arquette". Ou ainda: "Pour une soirée à cinq elle met Francis Poulenc, du Henri Dutilleux quand elle relit Bourdieu, le soir de la chandeleur c'est du Gustave Mahler, Alessandro Scarlatti pour corriger des copies".
E, como já deverão ter reparado, ele próprio, Vincent Delerm, praticamente nos convida a fazê-lo, de tal modo não se coíbe nem um bocadinho — qual Lloyd Cole do início — de praticar o "name dropping" como a mais elevada das belas-artes. Podia ser irritante e (no lado errado de) pretensioso mas (também aí como em Rattlesnakes) a coisa é exercida com uma tal elegância e ironia delicadamente pedante que, assim que termina uma canção, salivamos em desespero para que a seguinte consiga aguentar o mesmo registo. Consegue. Conseguem todas, da primeira à última.
Em figurino orquestral da escola Divine Comedy, serpenteando por entre charlestons e mariachis, apenas voz e piano, sobre fundo de melancolia para trompete subliminar (o sublime "Evreux"), em "tête-a-tête" gainsbouguiano com Keren Ann, Irène Jacob e Dominique A, Delerm reinventa Cole Porter e Noel Coward na língua de Etienne Daho, desafia Stephin Merritt para um duelo de cavalheiros e oferece a quem a souber merecer uma das mais requintadas jóias da pop francesa actual. Tão simples quanto isto: depois de se escutar "Le Baiser Modiano", "Kensington Square", "Natation Synchronisée" ou "Gare de Milan" (pelo menos, estas), acrescenta-se um novo sentido à palavra "dependência". (2005)
03 March 2007
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1 comment:
Ainda não me abalancei para isso.
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