11 April 2024

Como, este ano, no 50º aniversário, ia dar muito nas vistas, foi à sorrelfa, no ano passado (ver aqui)
Esqueçam "esquerda" e "direita", "progressistas" e "reaccionários", "radicais" e "moderados": na actual fase rastejante do combate político, tudo se passa entre figurões "arrogantes" e mansos devotos da "humildade" - o chamado grau zero da actividade cerebral

10 April 2024

"Mão Na Mão"
 
(sequência daqui) Do mesmo lado da barricada, Ana Lua Caiano, reconhece a afinidade com intrépidos profanadores da sacrossanta tradição como os já vetustos Gaiteiros de Lisboa e sua contemporânea descendência, em cruzamento de genes com os Deolinda, os bravíssimos Cara de Espelho: "A articulação de vozes e instrumentos dos Gaiteiros que, às vezes, chega a apoximar-se do rap, é extraordinária e os Cara de Espelho são um projecto muito entusiasmante que, de alguma forma acaba por nos inspirar também". Mesmo correndo o risco de, antes de desfrutar plenamente do presente, se pretender enxergar ansiosamente o futuro, é praticamente invevitável perguntar a Ana Lua se faz alguma ideia do horizonte para onde a música que faz se encaminhará ou se se tratará apenas de um muito natural desdobramento do que até aqui chegou. Aguardemos, então: "Como nunca parei de compor diariamente, será necessariamente um desdobramento. Haverá certamente diferenças mas que só deverão decorrer de um processo natural, mas não muito racional - quando componho não consigo ser muito analítica. Mas se, porventura, ensaiasse outro tipo de estratégias, isso nunca poderia ser nada forçado".
O atroador ruído do momento em que, num estúdio de televisão, uma ideia (solitária) procura, em vão, penetrar-lhe o espesso crânio (ou "episódios da campanha de lançamento de 'novos valores' do bando do Ponto Negro")
 

09 April 2024

LE ROI SE MEURT

Ouvir o anúncio da minha morte
foi como ouvir uma língua estranha:
deram-me um esquisito passaporte,
sem dizerem se é pra vale ou montanha.

Pouco me vale reinar em qualquer Espanha,
a morte quer é haver-se comigo.
Porquê mostrar, a mim, sua gadanha,
achará que sou, pra ela, um perigo?

O que perturba é ela conhecer-me,
parecer saber, de há muito, quem sou,
andar atrás de mim a envolver-me!

Mas agora o momento chegou:
ser rei já muito pouco adianta,
quando a morte me aperta a garganta.

Eugénio Lisboa

NOTA: LE ROI SE MEURT é o título de uma notabilíssima peça
de teatro, de Eugène Ionesco, que vi, encenada em Paris. Como
o título me convinha, roubei-lho. É assim que se faz.

Eugénio Lisboa (1930 - 2024)

A tropa fandanga do costume, "starring" o Kaizer Albino e o Capelão Magistral, sob o comando do Láparo Tosquiado, a cumprir o seu triste  destino histórico de reaças irrecuperáveis