MEA MAXIMA CULPA (VI)
(publicado no nº 11 da "Granta")
(sequência daqui) Poderia ainda acrescentar ao rol de desatinos a reacção inexplicavelmente alérgica a Steve McQueen (1985), dos Prefab Sprout ("É impossível não franzir o nariz a esta pop quase sem espinha nem energia, hipercarregada de efeitos e complicativa, piscando incessantemente o olho a si mesma e que, deslumbrada com tanta aparente versatilidade, é incapaz de seguir de modo escorreito um percurso melódico sem ceder à tentação de lhe sobrepor desvios 'espertalhões' a mostrar aos entendidos que a sabedoria até vai além dos desprezíveis quaternário e cadência de dominante-tónica") mas é obrigatório reconhecer que não se colecciona asneiradas apenas virando o polegar para baixo. O inverso também pode ser generosamente produtivo.
Uma década depois, em Dublin, o festival Green Energy converter-se-ia em palco de aparições milagrosas. E juro solenemente, cross my heart and hope to die, que nada disso teve sequer vagamente a ver com o facto de o patrocinador do evento ser a cerveja Heineken. Por lá andavam Lou Reed, Goldie, Orbital e inúmeros anónimos (ou quase) mas a primeira revelação ocorreria num dos inúmeros palcos de bar/pub , de Temple Bar, o Fitzsimmon's. Poucos passos à minha frente, Nine Wassies From Bainne. Abalo existencial instantâneo: "Colisão frontal e fulgurante entre Zappa, a comédia Dada, Zorn, o fantasma electrocutado do rock, Hendrix, Captain Beefheart e todos os arredores mais delirantes desta área de catástrofe. Apenas uma bateria-turbo, um baixo em estado de taquicárdia e uma guitarra que viaja em voo picado, da distorção ao timbre de trompete, passando pelo contraponto de pedais e sonares alucinados, 'flashes' de derrapagem orquestral e intervalos de melodia encaixilhada em arame farpado", escreveria eu, ainda em levitação. E, solenemente, proclamava: "São de Cork, evitam a Inglaterra (demasiado 'trendy') e estão a caminho de Nova Iorque, em busca de editora. Não se esqueçam, foi aqui que ouviram falar deles pela primeira vez". Pela primeira e, muito provavelmente, a última. Porque, embora tenham encontrado a editora que procuravam, nela gravariam Ciddy Hall, único álbum da sua meteórica carreira discográfica, e pouco depois esfumar-se-iam. (segue para aqui)
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