JOGO DE MASSACRE
Por entre explosivas erupções eléctricas e curtas tréguas de respiração, durante 38 segundos, no video de "Sweet", Dana Margolin, abre as páginas do seu diário: “My mum says that I look like a nervous wreck, because I bite my nails right down to the flesh, and sometimes I am just a child, writing letters to myself, wishing out loud you were dead, and then taking it back, and I used to be ashamed until I learned I love the game, and I slowly move away from everything I knew about you”. Mas, no momento em que, exactamente sobre a sílaba tónica de “about”, acende um fósforo nas cordas da guitarra, ficamos com a certeza absoluta de que aquele gesto acabou de entrar para a iconografia do rock’n’ roll. E, logo de seguida, passa ao modo de repetição obsessiva de palavras e ideias que nunca mais abandonará até ao fim: “You will like me when you meet me, you will like me when you meet me, you will like me when you meet me, you might even fall in love”. Fá-lo-á mais de duas dezenas de vezes até à conclusão dos cerca de 4 minutos da canção, tal como em todas as outras dez de Every Bad, o impressionante segundo álbum do quarteto de Brighton, Porridge Radio.
Em entrevista à “Pitchfork”, Margolin conta que, quando criança, sonhava ser poeta: “Ainda tenho um dossier de poemas que escrevi aos 8 anos. Sei vários de cor: ‘Sometimes you make friends, sometimes you break friends, sometimes you go around little bends’. Sinto imenso afecto pelo meu anterior eu, é uma pessoa diferente da que sou agora, mas esforçava-se imenso”. Na verdade, não tão diferente assim: o estilo de reiteração auto-encantatória, de vertiginosas litanias compulsivas, apenas se ampliou. "Lilac" – o mais óbvio e avassalador exemplo – são sete dezenas de versos compostos por apenas duas ou três súplicas aprisionadas num "loop" e incansavelmente marteladas até ao alucinatório colapso final. “Se repetirmos uma frase infinitamente, ela acaba por ganhar sentidos diferentes ou mesmo o oposto do que teria à partida”, diz Dana. Um arrasante jogo de massacre com poucas mais saídas que “So you want, want, want, want, want, and you want some more, and you want, want, want, want, want 'til you get sore”.
No comments:
Post a Comment