VERSINHOS MAIS OU MENOS DECASSILÁBICOS;
EM TEMPO DE PESTE
Ísis (mencionada no texto)
Um filósofo alemão já dizia
que os gregos inventaram a tragédia
porque eram felizes, Seria a comédia
a surgir, se tivessem azia.
Se cada um quer ter o que não tem,
o feliz tenta ser infeliz
e o infeliz almeja ser feliz:
ninguém nunca, mas nunca, está bem.
Antes, gostávamos de estar em casa,
e o vírus deu-nos isso de presente,
mas como o estar em casa nos atrasa
a vida, que ficou absurda, de repente!
Merda para esta vida de paz,
diria, se fosse escritor naturalista:
porque, já agora, tanto me faz
comer um bife ou simplesmente alpista.
Preparo-me, com gozo, para ver,
se tudo isto por fim terminar,
quantas obras-primas vai haver
nas gavetas por aí a engordar!
P´ra já, feliz, só a minha gatinha,
que, mal me vê, petisco adivinha.
Peço desculpa se meu pobre estro,
nestes dias de peste muito turva,
não dá para mais: eu, pobre maestro,
faço o que posso – e dou uma curva!
Eugénio Lisboa,
Humílimo vate, dia sim, dia não
5 comments:
Lembras-te, seguramente, daquela troca de comentários que fizemos aqui, há poucos dias, sobre as escolhas de última hora, na classe médica, seguramente sob extremo sofrimento profissional, e eles sabem que nisto a deontologia entra no cômputo.
Existe uma ética.
Congratulo-me com notícias que vão dando conta da sobrevivência de octogenários, nonagenários e, até, de um senhor que completou o seu 100º ano de vida no hospital, em recuperação. Ofereceram-lhe um bolo, isto é celebrar a vida, não é abandono, acredito que, para todos, naquela unidade hospitalar, estes csos serão de pura alegria, não daquela que toma pelos neurónios os carrascos.
O poema, bom, o poema, o bem que me fez, tamanha a lucidez :)
E a Ísis?...
João,
A Ísis está feliz, a olhar para o Humílimo vate, dia sim, dia não, e com ar de quem está a adivinhar petisco...
Ah, e a Ísis é linda, linda, linda. :)
🌻
De quem é?
Está publicado noutro sítio? Queria levar para outro lado e indicar.
Está lá a assinatura em baixo.
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