23 January 2018

JUNTAR PEÇAS

  
Em 1967, Philip Larkin escrevia “Sexual intercourse began in nineteen sixty-three (which was rather late for me), between the end of the ‘Chatterley’ ban and the Beatles' first LP”. Embora já umas quantas décadas mais tarde, um miúdo belga de treze anos, ao passar os olhos por Lady Chatterley’s Lover, de Lawrence, também não evitou deter-se numa passagem da carta de Oliver Mellors a Connie: “My soul softly flaps in the little Pentecost flame with you, like the peace of fucking. We fucked a flame into being. Even the flowers are fucked into being between the sun and the earth”. E ficou com a certeza de que aquela frase – “We fucked a flame into being” – poderia ser a semente para um disco. Dezasseis anos depois, Maarten Devoldere, a bordo de um rebocador de Ghent, criaria We Fucked A Flame Into Being, primeiro álbum do quase "nom de plume", Warhaus. “Tinha o título antes de ter a música”, recordou ele, em 2016, quando a gravação foi publicada. 



E, agora que Warhaus se converteu igualmente em título do segundo volume desta discografia paralela (supostamente, o "day job" de Devoldere será os Balthazar), ele alonga-se em explicações acerca de como aquela peculiar colisão de Serge Gainsbourg, Leonard Cohen, Nick Cave e outras férteis moléculas inspiradoras é encaminhada para a sua música: “Não sei se pode chamar-se compor ao que faço. Vou juntando peças e tento que soe como se eu controlasse tudo mas, se escutarem com atenção, estou completamente perdido... Gosto de compor enquanto faço 'jogging'. Gravo as ideias no meu iPhone e saem muito ofegantes. Fica bem um pouco de drama, aqui e ali. Levo 4 semanas para aprender um acorde novo na guitarra. Fiz as contas e imagino que precisarei de 23 anos para dominar todos os acordes de jazz. Tenho tempo, tenciono viver até tarde. Fujo das drogas e do ioga”. E, ponto de partida: “Se existirem três discos de que gostemos mesmo muito, é o suficiente para formar uma banda. Quatro já é demasiado complicado para um espírito criativo lidar com tanta informação”. Talvez. Mas a verdade é que, aos princípios activos já identificados, poderia facilmente acrescentar-se alguma ferruginosa estridência de Tom Waits ou um John Barry arábico filtrado pelo antiquíssimo trip hop. A dividir pelas vozes de Maarten e Sylvie Kreusch, a Birkin/Anita Lane deste Gainsbourg/Cave. 

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