Cada macaco no seu galho. Compreendo que o João Lisboa se irrite com o facto de algumas pessoas falarem de música ou ensino como se fossem sumidades. Certamente o mesmo que algumas pessoas sentirão quando fala de política. E garantidamente o que eu sinto quando fala, por exemplo, de ciência.
Só para dar um exemplo (nem sequer vou falar sobre o sinistro link para as conferências TED, antes que se abra uma caixa de Pandora a espirrar banha da cobra), partilho o seu cepticismo em relação à aura violeta, aos meridianos energéticos do corpo, ao yin-yang ou à «memória» da água destilada nas prateleiras das farmácias homeopáticas, mas citar a COMCEPT (cão-de-fila da ciência oficial) como fonte fidedigna de comentário científico, é tão atroz como usar os resultados dos Grammy's para orientar a actividade crítica. Não creio que tal coisa lhe passasse pela cabeça.
1) Não me irrita nada que se fale sobre música ou educação desde que não se diga disparates óbvios por pura ignorância.
2) Sobre política, por definição, TODA A GENTE deveria falar.
3) Já me passou várias vezes pela cabeça tirar o link TED (se calhar, é hoje...). Foi, inicialmente, uma boa ideia mas concordo que não seguiu pela melhor via.
4) O que é ser "cão-de-fila da ciência oficial"? E o que é a "ciência oficial"?
2) Claro que sim, desde que não se diga disparates óbvios por pura ignorância.
4) A ciência oficial é aquela que aparece nas colunas de jornais, que se inculca na mente da maioria das pessoas, pouco preparadas para lidar com esses assuntos, e que é suposto levarmos muito a sério. É aquela que os governos determinam como linha orientadora das suas políticas sem que sejam permitidos pontos de vista alternativos. É natural: os políticos são, regra geral, gente com uma vergonhosa falta de formação científica (e quando a têm, raramente percebem alguma coisa fora da sua área), o que dá lugar aos oportunistas (com trabalho publicado a defender contra tudo e todos) que são convidados para ingressar as equipas conselheiras.
A questão das alterações climáticas é um triste exemplo disso. Barack Obama teve o desplante de prometer que ia travar o aquecimento global (se a memória não me falha, foi mesmo a palavra «stop» que ele usou; acho que falta ali qualquer coisa de Matemática, Física e Controlo para meter juízo naquela cabeça). E agora aparece o Trump -- que todos reconhecemos como uma sumidade nos mais variados domínios e em quem ninguém encontra conflitos de interesse -- a dizer que o aquecimento global é uma invenção. Entre dois ignorantes no assunto, salve-se quem puder.
Entretanto, os fabricantes de automóveis há já muito que começaram a usar a ciência oficial para promover os seus motores cada vez mais «verdes» (haja alguma coisa de positivo nisto tudo, mesmo com tanta falcatrua pelo meio), mas do resto das porcarias que saltam para fora do tubo de escape já ninguém se lembra, tal é a moda do CO2 (um dia há-de passar, como a do ozono). Mas entre a ciência oficial e a sua arqui-inimiga, não são permitidas opiniões divergentes que possam contribuir para o debate e ajudar a esclarecer melhor a opinião pública.
E já que tudo começou pela COMCEPT, quando visitei a página reparei que as poucas linhas sobre experimentação animal (cujas refutações por parte da comunidade científica ao longo da história foram, e são, constantes), acompanhadas de uma inócua foto de uns ratinhos em vez de um cão preso a um aparelho estereotáxico, remetiam para um artigo externo ao site. Um daqueles artigozinhos estafados e cheios de factos falsos baseados numa cartilha de relações humanas que já vem dos anos 70 e que, tal como a cartilha do lobby tauromáquico, pode ser refutada por qualquer pessoa que se baseie mais em factos e menos em palermices (desconfio -- ou tenho a certeza -- de que o facto de alguns dos membros da COMCEPT serem bioquímicos foi o motivo pelo qual o assunto foi cuidadosamente despachado para fora do seu cantinho digital). Esse artigo foi, aliás, devidamente refutado por um dos leitores na caixa de comentários sem que o autor -- em cuja capacidade de persuasão a COMCEPT confiou -- conseguisse evitar meter os pés pelas mãos. Sobre isso, aliás, escrevi à COMCEPT, mas os cépticos não me responderam nem publicaram a minha mensagem. Respondendo à sua pergunta, isto é que é ser um cão-de-fila da ciência oficial.
"2) Claro que sim, desde que não se diga disparates óbvios por pura ignorância"
Em matéria de política - assunto não-científico, por mais "ciências" e "cientistas" políticos que existam -, TODA A GENTE diz (e deve continuar a dizer) mais ou menos disparates, mais ou menos óbvios. É uma questão de procurar peneirá-los. Com maior ou menor sucesso.
"4) A ciência oficial é aquela que aparece nas colunas de jornais, que se inculca na mente da maioria das pessoas, pouco preparadas para lidar com esses assuntos, e que é suposto levarmos muito a sério. É aquela que os governos determinam como linha orientadora das suas políticas sem que sejam permitidos pontos de vista alternativos..."
Não está a falar de ciência ("oficial" ou não) mas, outra vez, de política (e de informação iletrada). E, no segundo parágrafo, de comércio, indústria, msarketing.
Quanto à experimentação animal, instintivamente repugna-me mas não tenho conhecimento suficiente sobre o assunto para contrargumentar.
E, embora possa não parecer, uma das minhas regras de ouro, é não falar sobre o que desconheço.
«Em matéria de política - assunto não-científico, por mais "ciências" e "cientistas" políticos que existam -, TODA A GENTE diz (e deve continuar a dizer) mais ou menos disparates, mais ou menos óbvios. É uma questão de procurar peneirá-los. Com maior ou menor sucesso.»
Estamos de acordo em relação à utilização da palavra «ciência» para esses fins e outros (essa coisa das «ciências sociais»...). Mas então fico sem perceber porque é que não tem a mesma tolerância em relação às opiniões sobre música ou ensino.
Se o seu entendimento de «ciência oficial» é aquela coisa que havia no comunismo e no nazismo, em que a ideologia ditava as conclusões, estamos de acordo. Contudo, infelizmente, alguns aspectos lamentáveis perduram nos nossos dias e criam, de facto, uma oficilização do conhecimento. É que, ao contrário do que acontecia nas ditaduras, as pessoas podem falar sem serem presas. Mas também podem sofrer sérias consequências nas suas carreiras (o que acontece com facilidade em países como os EUA, em que há uma forte intervenção de organismos privados no financiamento científico). Isso só é possível quando existem linhas de orientação pré-definidas.
"fico sem perceber porque é que não tem a mesma tolerância em relação às opiniões sobre música ou ensino"
Mas não se trata de tolerância. Até porque, exactamente da mesma forma que com as outras, sempre me ri das "ciências" musicais (apesar de, no que diz respeito à acústica, electro-acústica e electrónica até nem ser disparatado). É apenas uma questão de, por exemplo, me parecer tolinho alguém, muito convictamente, chamar "polca" a uma "valsa" se não faz a mínima ideia do que está a falar.
"Isso só é possível quando existem linhas de orientação pré-definidas"
Continuo sem perceber é o que tem isso a ver com a COMCEPT.
10 comments:
Cada macaco no seu galho. Compreendo que o João Lisboa se irrite com o facto de algumas pessoas falarem de música ou ensino como se fossem sumidades. Certamente o mesmo que algumas pessoas sentirão quando fala de política. E garantidamente o que eu sinto quando fala, por exemplo, de ciência.
Só para dar um exemplo (nem sequer vou falar sobre o sinistro link para as conferências TED, antes que se abra uma caixa de Pandora a espirrar banha da cobra), partilho o seu cepticismo em relação à aura violeta, aos meridianos energéticos do corpo, ao yin-yang ou à «memória» da água destilada nas prateleiras das farmácias homeopáticas, mas citar a COMCEPT (cão-de-fila da ciência oficial) como fonte fidedigna de comentário científico, é tão atroz como usar os resultados dos Grammy's para orientar a actividade crítica. Não creio que tal coisa lhe passasse pela cabeça.
1) Não me irrita nada que se fale sobre música ou educação desde que não se diga disparates óbvios por pura ignorância.
2) Sobre política, por definição, TODA A GENTE deveria falar.
3) Já me passou várias vezes pela cabeça tirar o link TED (se calhar, é hoje...). Foi, inicialmente, uma boa ideia mas concordo que não seguiu pela melhor via.
4) O que é ser "cão-de-fila da ciência oficial"? E o que é a "ciência oficial"?
1) Concordo.
2) Claro que sim, desde que não se diga disparates óbvios por pura ignorância.
4) A ciência oficial é aquela que aparece nas colunas de jornais, que se inculca na mente da maioria das pessoas, pouco preparadas para lidar com esses assuntos, e que é suposto levarmos muito a sério. É aquela que os governos determinam como linha orientadora das suas políticas sem que sejam permitidos pontos de vista alternativos. É natural: os políticos são, regra geral, gente com uma vergonhosa falta de formação científica (e quando a têm, raramente percebem alguma coisa fora da sua área), o que dá lugar aos oportunistas (com trabalho publicado a defender contra tudo e todos) que são convidados para ingressar as equipas conselheiras.
A questão das alterações climáticas é um triste exemplo disso. Barack Obama teve o desplante de prometer que ia travar o aquecimento global (se a memória não me falha, foi mesmo a palavra «stop» que ele usou; acho que falta ali qualquer coisa de Matemática, Física e Controlo para meter juízo naquela cabeça). E agora aparece o Trump -- que todos reconhecemos como uma sumidade nos mais variados domínios e em quem ninguém encontra conflitos de interesse -- a dizer que o aquecimento global é uma invenção. Entre dois ignorantes no assunto, salve-se quem puder.
Entretanto, os fabricantes de automóveis há já muito que começaram a usar a ciência oficial para promover os seus motores cada vez mais «verdes» (haja alguma coisa de positivo nisto tudo, mesmo com tanta falcatrua pelo meio), mas do resto das porcarias que saltam para fora do tubo de escape já ninguém se lembra, tal é a moda do CO2 (um dia há-de passar, como a do ozono). Mas entre a ciência oficial e a sua arqui-inimiga, não são permitidas opiniões divergentes que possam contribuir para o debate e ajudar a esclarecer melhor a opinião pública.
E já que tudo começou pela COMCEPT, quando visitei a página reparei que as poucas linhas sobre experimentação animal (cujas refutações por parte da comunidade científica ao longo da história foram, e são, constantes), acompanhadas de uma inócua foto de uns ratinhos em vez de um cão preso a um aparelho estereotáxico, remetiam para um artigo externo ao site. Um daqueles artigozinhos estafados e cheios de factos falsos baseados numa cartilha de relações humanas que já vem dos anos 70 e que, tal como a cartilha do lobby tauromáquico, pode ser refutada por qualquer pessoa que se baseie mais em factos e menos em palermices (desconfio -- ou tenho a certeza -- de que o facto de alguns dos membros da COMCEPT serem bioquímicos foi o motivo pelo qual o assunto foi cuidadosamente despachado para fora do seu cantinho digital). Esse artigo foi, aliás, devidamente refutado por um dos leitores na caixa de comentários sem que o autor -- em cuja capacidade de persuasão a COMCEPT confiou -- conseguisse evitar meter os pés pelas mãos. Sobre isso, aliás, escrevi à COMCEPT, mas os cépticos não me responderam nem publicaram a minha mensagem. Respondendo à sua pergunta, isto é que é ser um cão-de-fila da ciência oficial.
"2) Claro que sim, desde que não se diga disparates óbvios por pura ignorância"
Em matéria de política - assunto não-científico, por mais "ciências" e "cientistas" políticos que existam -, TODA A GENTE diz (e deve continuar a dizer) mais ou menos disparates, mais ou menos óbvios. É uma questão de procurar peneirá-los. Com maior ou menor sucesso.
"4) A ciência oficial é aquela que aparece nas colunas de jornais, que se inculca na mente da maioria das pessoas, pouco preparadas para lidar com esses assuntos, e que é suposto levarmos muito a sério. É aquela que os governos determinam como linha orientadora das suas políticas sem que sejam permitidos pontos de vista alternativos..."
Não está a falar de ciência ("oficial" ou não) mas, outra vez, de política (e de informação iletrada). E, no segundo parágrafo, de comércio, indústria, msarketing.
Quanto à experimentação animal, instintivamente repugna-me mas não tenho conhecimento suficiente sobre o assunto para contrargumentar.
E, embora possa não parecer, uma das minhas regras de ouro, é não falar sobre o que desconheço.
Passaram aí umas gralhas: "marketing", "contra-argumentar"...
E o TED já foi despedido.
:-)
Só mais uma correcção: onde escrevi "no segundo parágrafo", é "no terceiro parágrafo".
«Em matéria de política - assunto não-científico, por mais "ciências" e "cientistas" políticos que existam -, TODA A GENTE diz (e deve continuar a dizer) mais ou menos disparates, mais ou menos óbvios. É uma questão de procurar peneirá-los. Com maior ou menor sucesso.»
Estamos de acordo em relação à utilização da palavra «ciência» para esses fins e outros (essa coisa das «ciências sociais»...). Mas então fico sem perceber porque é que não tem a mesma tolerância em relação às opiniões sobre música ou ensino.
Se o seu entendimento de «ciência oficial» é aquela coisa que havia no comunismo e no nazismo, em que a ideologia ditava as conclusões, estamos de acordo. Contudo, infelizmente, alguns aspectos lamentáveis perduram nos nossos dias e criam, de facto, uma oficilização do conhecimento. É que, ao contrário do que acontecia nas ditaduras, as pessoas podem falar sem serem presas. Mas também podem sofrer sérias consequências nas suas carreiras (o que acontece com facilidade em países como os EUA, em que há uma forte intervenção de organismos privados no financiamento científico). Isso só é possível quando existem linhas de orientação pré-definidas.
"fico sem perceber porque é que não tem a mesma tolerância em relação às opiniões sobre música ou ensino"
Mas não se trata de tolerância. Até porque, exactamente da mesma forma que com as outras, sempre me ri das "ciências" musicais (apesar de, no que diz respeito à acústica, electro-acústica e electrónica até nem ser disparatado). É apenas uma questão de, por exemplo, me parecer tolinho alguém, muito convictamente, chamar "polca" a uma "valsa" se não faz a mínima ideia do que está a falar.
"Isso só é possível quando existem linhas de orientação pré-definidas"
Continuo sem perceber é o que tem isso a ver com a COMCEPT.
Quanto ao primeiro comentário, estou esclarecido. Ainda bem que nunca lhe disse que os Beatles me fazem pele de galinha pelas piores razões :p
Quanto à segunda parte, basta ler o conteúdo do tal site.
"Ainda bem que nunca lhe disse que os Beatles me fazem pele de galinha pelas piores razões"
Mas pode dizer à vontade.
:-)))
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