24 February 2017
23 February 2017
MÁFIA DE GUITARRAS
Thurston Moore não poupa nas palavras: “Michael Chapman esfarrapa uma guitarra acústica da mesma forma que Kandinsky uiva com um pincel. A sonoridade do feedback que ele extrai de uma guitarra de caixa foi sempre o meu modelo quando faço improvisação noise”. Isto diz ele acerca de um tipo de 76 anos que, apesar de – com Roy Harper, Bert Jansch, John Martyn, Martin Carthy ou Davey Graham – ter sido um dos faróis do folk/blues britânico e ostentar um CV com quase cinco dezenas de álbuns, só agora, após anos demais confinado a um estatuto de culto excessivamente confidencial, com 50, se vê publicamente aclamado como há muito era devido, regiamente produzido por Steve Gunn (que inclui Chapman, juntamente com La Monte Young, John Fahey e Robbie Basho, na sua lista privada de gurus) .
O Michael Chapman foi uma das figuras importantes do "british folk/blues revival" dos anos 60. Que memória guarda dessa época?
Era um ambiente muito sociável, apenas um grupo de amigos com experiência de tocar em clubes de folk, tudo gente nada académica. Divertíamo-nos muito, viajávamos pelo país todo. Para mim, era tudo muito novo, antes disso, nunca tinha sido músico profissional. Aprendíamos a tocar com músicos como o John Renbourn, o Bert Jansch ou o Davey Graham que ampliavam os limites daquilo que era possível fazer com uma guitarra acústica.
No ínicio, quais eram os seus modelos musicais?
O primeiro é capaz de ter sido o Big Bill Broonzy, E o segundo o Django Reinhardt. Na verdade, a minha raiz não era a folk mas sim o jazz.
Esse grupo de que fazia parte ao qual poderíamos acrescentar, por exemplo, o Richard Thompson, constituía como que uma espécie de fraternidade musical, apesar das diversas origens musicais?
Éramos uma espécie de máfia da guitarra acústica! (risos)
Tem ideia de por que motivo, de um tão rico conjunto de guitarristas – embora todos se tenham tornado músicos de culto –, praticamente nenhum atingiu o estatuto popular de "guitar hero" como aconteceu com Jimmy Page, Eric Clapton ou Jimi Hendrix?
Suponho que tenha sido porque nenhum de nós alguma vez desejou ser encarado desse modo. Ser famoso não era aquilo de que andávamos à procura. Os Pentangle chegaram a ser famosos e, até certo ponto, poderíamos dizer que o John Martyn também... mas tínhamos a noção do valor daquilo que fazíamos e bastáva-nos isso. Quem toca guitarra acústica prefere não o fazer em salas demasiado grandes. Eu gosto de poder ver o tipo que está na última fila. E, se houver oportunidade, beber um copo com ele. Numa sala com 5000 pessoas não se pode beber com todas... embora possa tentar-se! (risos)
Segundo a lenda, tudo começou para si em 1966, numa noite de chuva na Cornualha, quando, para pagar a entrada num clube, se ofereceu para tocar. É mesmo verdade?
É verdade, é. Estava uma tempestade terrível e eu tinha decidido que ia dormir no carro. Mas apercebi-me que, com o ruído da chuva, nunca iria conseguir. Então, entrei nesse clube de folk e propus-lhes tocar durante meia hora. Acabei por aceitar uma contraproposta de tocar seis noites por semana durante todo o Verão. Nem olhei para trás: era mais dinheiro do que o que ganhava como professor de fotografia no Lancashire. Sem ter sido necessário tomar qualquer grande decisão, completamente por acaso, tornei-me músico profissional.
Custou-lhe deixar o ensino da fotografia?
Não. Saí na altura certa. Eu queria ensinar da melhor forma que era capaz mas não me deixavam. Colocavam-ne imensas restrições relativamente ao que podia fazer. É uma história longa e aborrecida... e como também namorava com uma aluna e a minha mulher não achava muita graça a isso... (risos)
O Michael tem uma discografia enorme...
... é uma estúpidez, não é?... (risos)
... mas, ao longo de todos estes anos, tinha consciência de que era objecto de um culto tão grande por parte de músicos mais novos como Thurston Moore ou Steve Gunn?
Sim, aconteceu nestes últimos dez anos, especialmente na América. Não fiz de propósito. Fizemos concertos em conjunto e dei-me muito bem e fiz amizade com gente que tem metade da minha idade. É, outra vez, aquela história da máfia das guitarras só que, desta vez, na América. E, embora, na maioria, sejam guitarristas eléctricos, a mim tanto se me faz. Sempre toquei ambas, é-me indiferente.
Como foi a relação com Steve Gunn que produziu este seu álbum?
Conheci-o há cerca de dez anos num festival de guitarras. Tinha ouvido os últimos álbuns dele e achei-os fantásticos. Por isso, quando conversei com ele, disse-lhe que não estava interessado em apenas mais um álbum-de-Michael Chapman, desde há muito desejava gravar com uma banda. Fomos para um estúdio em Nova Iorque e, durante três dias, gravámos uma quantidade de coisas bastante interessantes. Foi aí que me apercebi que poderíamos ir mais longe com aquele grupo de pessoas que não eram só bons amigos mas também grandes músicos. A combinação perfeita.
Porque decidiu regravar uma série de canções que já tinha publicado em álbuns anteriores?
Até cerca de três meses antes de começarmos a gravar, eu não tinha escrito nenhuma canção nos últimos quatro anos. Quando compus algumas novas para este disco, não imagina como fiquei feliz: estava convencido que nunca mais voltaria a ser capaz de o fazer. E, das antigas, escolhi as que tinham sido incluidas em álbuns nunca publicados na América.
Apesar de a música americana ter sido sempre uma referência central na sua, este álbum – porque foi gravado nos EUA e com músicos locais – é apresentado como o seu primeiro “álbum americano”. Na actual situação política deste país, não é um momento particularmente problemático para se fazer essa associação?
(risos) O álbum foi gravado já quase há um ano. E queríamos publicá-lo também em vinil. Acontece que a maioria das fábricas de discos de vinil foram desactivadas. Leva praticamente um ano a conseguir que um disco seja prensado. E quando o disco foi concluído a situação política era diferente. Mas compreendo bem aquilo que quer dizer. As coisas estão numa enorme confusão. E, provavelmente, ainda irão ficar pior. Mas não sei... teremos de esperar para ver. Não sei se não deveríamos dar uma oportunidade ao homem... embora, na minha lista de prioridades, isso esteja lá bem no fundo.
17 de Fevereiro de 2017: o dia em que, com uns valentes séculos de atraso, "um estudo" descobriu a porta de saída da Idade Média
22 February 2017
... mas o que verdadeiramente importa são as enormes, decisivas e dilacerantes interrogações que voltam a colocar-se!
21 February 2017
RESSURREIÇÃO
"How Much Is That Doggie in The Window?", uma cançoneta anódina escrita por Bob Merrill e interpretada por Patti Page, foi, em 1953, um colossal êxito de vendas (2 milhões de copias) e de popularidade extra-musical: os escritórios da Mercury Records foram inundados com pedidos de oferta de cachorrinhos e os registos desse ano no American Kennel Club aumentaram 8%. Mas converteu-se também em símbolo de tudo aquilo que a emergente geração do rock’n’roll mais adorava odiar. “Canções insípidas como essa escancararam as portas para o febril acolhimento ao rock, dois anos mais tarde. A atmosfera musical estava madura para que algo de novo e vibrante a sacudisse”, escreveu o historiador do rock, Michael Uslan. Em No Direction Home, de Martin Scorsese, Bob Dylan confirma-o: “Na minha cidade, não existia ideologia contra a qual nos revoltarmos. Tive, por isso, que inventar uma. Escutava canções como ‘How Much Is That Doggie in The Window?’ e convencia-me que os media não mostravam verdadeiramente a realidade”. E, mais de meio século depois, Michael Chapman – entrevistado por Thurston Moore, em 2012, para a “Fretboard Magazine” – , ao referir-se ao "skiffle", que Lonnie Donegan e Ken Colyer praticavam em Inglaterra, para sublinhar quanto isso o entusiasmara, declara “Era, de certeza, muito melhor que ‘How Much Is That Doggie in The Window?’!...”
Vale a pena ler a entrevista toda. Não abusando do "muso talk", por entre detalhes da biografia do magnífico guitarrista/compositor que, com Bert Jansch, John Renbourn, Richard Thompson, John Martyn ou Roy Harper, contribuiu para o "folk/blues revival" britânico dos anos 60, ficamos a saber que admirava Hendrix, nunca escutou uma nota tocada pelos Pink Floyd, aprovou o punk (“Era, outra vez, o skiffle mas com amplificadores potentes”) e possuiu uma respeitável colecção de guitarras mas “bebeu-a quase toda”. Realmente imprescindível, porém, é escutar 50, o álbum da sua ressurreição após uns demasiado prolongados “missing years” dos quais, à beira dos 76 anos, foi libertado pela devoção que lhe dedicaram músicos muito mais jovens como Thurston Moore ou Steve Gunn que produz o disco: "songwriting" intenso e avassalador deste calibre, algures entre Dylan, o classicismo de Richard Thompson e a vertigem eléctrica de Hendrix, é coisa que se vai fazendo rara.
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Não sei como os militantes da causa "qualquer coisinha de português" (LVIII) ainda não descobriram este bombonzinho (e, se espiolharem por aqui, até conseguem fazer um laçarote muito jeitoso)
Title sequence (IV)
20 February 2017
A grande arte de Vjeran Tomic não tem, pelo menos, o mesmo valor da de Picasso, Braque, Matisse, Léger e Modigliani?
"'She Said She Said' and 'Tomorrow Never Knows' were the furthest ahead of the culture the Beatles ever got"
19 February 2017
18 February 2017
O Capelão Magistral sabiamente entende que jornalistas "não especializados em temas de religião e moral" e "sem formação específica sobre a matéria correspondente" não devem "opinar sobre assuntos que não são do seu conhecimento" - isso deverá ficar exclusivamente reservado à padralhada e malta afim
... o regresso do eduquês em toda a sua glória (não esquecendo, claro, os inevitáveis "afectos") ou como nunca perdoaremos a Nuno Crato não ter morto a serpente no ovo
(João Costa, secretário de Estado da Educação, ao "Expresso" de hoje, acerca das modificações curriculares relacionadas com o novo Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória)
17 February 2017
Mais um "selling point" catita para Lisboa: abrigo fofinho para famílias de cadastrados chiques
16 February 2017
Porteirinhas intriguistas, coscuvilheiras, bisbilhoteiras anãs e convencidas que política é isso mesmo
15 February 2017
A Fatinha é muito boazinha e gosta muito dos pobrezinhos ("Uma coroa em ouro com 950 brilhantes, 1.400 diamantes, 313 pérolas, uma esmeralda grande, 13 esmeraldas pequenas, 33 safiras, 17 rubis, 260 turquesas, uma ametista e quatro águas marinhas" e outra a caminho também muito jeitosinha) + "Em 2013, o santuário de The Great Fatima Swindle e as casas religiosas detinham um património de 350 milhões de euros no concelho de Ourém. Ao abrigo da Concordata, esses bens não pagam IMI" ("Visão" de 26.01.17, Os Segredos do Negócio de Fátima - 5)
14 February 2017
MOEDA DE QUATRO FACES
Há elogios que se colam à pele e que, por muito que a pele mude, nunca se apagam. Quando, em 2007, por altura da publicação do primeiro álbum de Jesca Hoop, Kismet, Tom Waits – de cujos três filhos ela havia sido "nanny" durante cinco anos – a abençoou descrevendo-a como “uma moeda de quatro faces, uma alma antiga, uma pérola negra, uma bruxa boa ou uma lua vermelha; a música dela é como nadar, à noite, num lago”, porventura, não imaginava que, até hoje, raras seriam as linhas escritas sobre Jesca nas quais isso não fosse recordado (prova adicional: este mesmo texto). Por algum motivo "kismet" é a palavra que, em turco, urdu, hindi e árabe, significa “fado” ou “destino”... A verdade é que a metafórica caracterização de Waits não poderia ter sido mais apropriada. As canções da foragida de uma família mormon (por uma questão de “desintoxicação”) que, à teologia sci-fi, preferiu um “raccoon lifetsyle” – viver à sombra de árvores, em tendas, cabanas de adobe e num aviário abandonado –, pelo meio de biscates enquanto trabalhadora agrícola, da construção civil e vigilante florestal, eram exactamente do género que, de certeza, faria Tom Waits salivar: uma estética primitivista de ferro-velho em felicíssimo matrimónio com um design rústico de bordadeira artesanal celebrado no interior de uma mente singular.
Quase logo a seguir, não só mudou de pele como de localização geográfica: transplantada da Califórnia para Manchester, os dois álbuns seguintes – Hunting My Dress (2009) e The House That Jack Built (2012) –, sem deixarem de ser belíssimos espécimes musicais e pretexto para uma notável colecção de videoclips, secavam um pouco a veia experimental a favor de uma concepção sonora de acesso menos cifrado. The Complete Kismet Acoustic (2013) e Undress (2014) reviam a matéria anterior e, no ano passado, Love Letter For Fire (com Sam Beam/Iron & Wine) aproximava-se perigosamente de uma sonolenta atmosfera-fogo-de-campo. É, pois, uma excelente notícia darmo-nos conta de que, em Memories Are Now, a “moeda de quatro faces” brilha intensamente de novo. E, desta vez, de um modo particularmente waitsiano: uma espécie de folk sofisticadamente rudimentar, ora acústica, ora asperamente eléctrica, despojada mas imprevisível, só com o presente em mira: “I was not there, I won’t be there, I’m only here, memories are now”.
... e continua... agora, levanta-se a enorme "dúvida" sobre se os números de ilusionismo Karambista de The Great Fatima Swindle são "efectivamente inexplicáveis à luz da ciência"!... (seria possível informar, sem se rirem, o que os explicará se não for a ciência?)
PS - a célula mística-"new age" da imprensa "de referência", orgão oficial da Vaticano S.A. e ex-porta-voz da IURD, está mesmo imparável...
12 February 2017
The Ties That Blind
"(...) Mr. Trump’s tie symbolizes one of the central questions of his candidacy, and now his presidency. Is his seeming ineptness genuine? Or is it part of a contrived performance, designed to deploy the symbols of power while rejecting the conventions of civility that have traditionally defined and constrained them?"
(capturado aqui)
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Portugal, século XXI, 12/02/2017: a imprensa "de referência" (apesar de orgão oficial da Vaticano S.A., ex-porta-voz da IURD, e a mesma que, há dois anos, assegurava que o 'milagre de Fátima' é "coisa que só acontece a meninos muito especiais"), disfarça-se de "objectiva" e "imparcial" mas, a propósito de The Great Fatima Swindle, não consegue impedir-se de escrever inexplicáveis inanidades como
"Há cem anos, na Cova da Iria, a Virgem terá aparecido a três pastorinhos de poucas ou nenhumas letras. Verdade ou ilusão? Uma questão insolúvel, a que muitos procuraram responder";
"é importante notar também que a Igreja jamais se eximiu a uma prova de veracidade das narrativas dos videntes";
"o recurso feito pela Igreja a métodos científicos de indagação da verdade"; ou
"no caso dos pastorinhos de Fátima, nunca houve uma prova concludente e inatacável de que estivessem a mentir nos testemunhos que prestaram".
11 February 2017
O Capelão Magistral nunca deve ter ido à praia... e, se um dia vem a saber da existência da Outdoor Co-ed Topless Pulp Fiction Appreciation Society, ainda lhe explode o aneurisma! (mas escreveu algo absolutamente acertado: "Deixai uma paróquia vinte anos sem padre e lá os homens adorarão os animais", o que constituiria, sem dúvida, um enorme avanço civilizacional)
A corte celeste
10 February 2017
"O comércio [de The Great Fatima Swindle] é ecuménico: os azulejos da Sagrada Família acolhem os peluches da Patrulha Pata, os gorros dos Mínimos repartem prateleiras com imagens do Padre Pio, Nenucos, latas de atum, garrafões de plástico, cachecóis da Selecção, bustos de João Paulo II e 'amuletos da sorte com pedra vulcânica' convivem em abundância. Na loja e na livraria oficial do santuário, Fátima é também assunto de crianças: vendem-se as 118 cartas dos 'Super Heróis da Bíblia', de João Baptista a Moisés, 'semelhantes ao Homem Aranha, Super Homem, X-Men, etc.', o kit-Jacinta (bloco, estojo, caneta e lápis) ou o puzzle dos pastorinhos. No resto, a velha Fátima continua a arder em cera nova: por menos de dois euros desfilam variedades incontáveis de ex-votos e derretem-se promessas" ("Visão" de 26.01.17, Os Segredos do Negócio de Fátima - 4)
São sempre comoventes estes momentos em que os responsáveis por tudo o que não foi feito (ou foi mal feito) se reúnem para opinar sobre o que deverá fazer-se
(micro-excepção para o senhor sentado à esquerda)
Não tendo eu nada, nadinha, a ver com o "universo alucinado dos bloquistas" nem, muito menos (dog forbid!...), com as "almas socráticas da área do PS", ser-me-á permitido dizer que o Estado ainda é laico e que a coisa religiosa deverá manter-se no domínio privado e individual?
09 February 2017
08 February 2017
Pronto, vá lá, uma vez por ano (sugestão: 8 de Março) e não se fala mais nisso, pelo menos, no país do amigão "grab 'em by the pussy"-Trampas
07 February 2017
Jerry Falwell, Jr., Liberty University president, to lead Trump’s higher education task force
(foto daqui)
ANACRONISMOS
Siouxsie & The Banshees - "Hong Kong Garden" (Marie Antoinette, real. Sofia Coppola, 2006)
Na segunda sequência de Once Upon a Time In The West, pretendendo que não restem dúvidas sobre a origem irlandesa da família McBain – que, pouco depois, será implacavelmente chacinada –, Sergio Leone faz questão que uma das personagens trauteie meia dúzia de compassos de "Danny Boy", um quase hino da comunidade irlandesa emigrada. Detalhe relevante: a acção do filme decorre na segunda metade do século XIX mas "Danny Boy" apenas foi escrita em 1910, por Frederic Weatherly. Na verdade, nada de muito grave: deliberados ou involuntários, anacronismos desse género integram a própria natureza do cinema – sempre que nos dispomos a ver um filme, não assinamos necessariamente um pacto de "suspension of disbelief"? Sem recuar demasiado, escutar Siouxsie & The Banshees, New Order, Cure, Bow Wow Wow ou os Gang Of Four lado a lado com Vivaldi, Rameau ou Scarlatti, na banda sonora de Marie Antoinette, de Sofia Coppola (2006), terá sido sequer vagamente escandaloso? Descobrir Madonna, T. Rex, Police, Nirvana ou Elton John na Montmartre "fin de siècle" (onde “eclodirá” também "The Sound Of Music”), em Moulin Rouge, de Baz Luhrmann (2001), despenteou irremediavelmente alguma regra de ouro?
"Smells Like Teen Spirit" (Nirvana - em Moulin Rouge, Baz Luhrmann, 2001)
No território das séries de televisão, no qual boa parte da narrativa audio-visual contemporânea mais interessante ocorre, os exemplos não faltam. Em The Borgias (2011), ilustrar a coroação do papa Alexandre VI com Zadok The Priest, de Haendel, composta só três séculos mais tarde, poderá ter esticado demais a corda. Mas é impossível não falar da recente Westworld. Num universo paralelo – um parque temático "western" virtual habitado por andróides que, à medida que o argumento progride, obrigam a reformular tudo o que supomos saber acerca das fronteiras do humano e da relação com a inteligência artificial –, uma pianola mecânica (sugerida pelo Player Piano, de Kurt Vonnegut) instalada no bordel de Sweetwater (vénia subliminar ao nome do terreno dos McBain, de Leone), de acordo com as exigências do guião, vai extraindo dos rolos de papel perfurado versões instrumentais de "Paint It Black", dos Rolling Stones, "House Of The Rising Sun", dos Animals, "A Forest", de The Cure, "Black Hole Sun", dos Soundgarden, ou "Exit Music (For A Film)", dos Radiohead. Afinal, como justifica Ramin Djawadi, responsável pela música da série, “num 'western' com robots, por que motivo não poderia haver canções modernas tocadas por um robot primitivo (a pianola)?”
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"Entre 2004 e 2006, (...) o santuário [de The Great Fatima Swindle] teve 30 milhões de euros em aplicações financeiras no Banco Privado Português (BPP). O retorno do investimento terá sido de 7 milhões de euros. O santuário, ao contrário de outros, conseguiu salvar o dinheiro antes da falência da instituição bancária. Dessas aplicações saiu uma parcela para pagar a nova basílica de Fátima que terá custado cerca de 80 milhões de euros" ("Visão" de 26.01.17, Os Segredos do Negócio de Fátima - 3)
06 February 2017
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