"(...) Importa dizer que o kitsch não se circunscreve ao universo da arte, não é apenas o mau gosto e a banalidade artísticas. Há uma concepção ética do kitsch (formulada por vários artistas e escritores importantes da cultura vienense das primeiras décadas do século XX) que o vê sobretudo como modo de comportamento. A pessoa-kitsch só tem palavras vãs, produz retórica de pacotilha quando julga que está a ser poética, e quanto mais quer engrandecer o objecto dos seus elogios emocionados mais deixa perceber a falsificação. Não é que ele queira mentir, mas a mentira é consubstancial às suas palavras, está colada a elas como uma substância pegajosa. Ele não fala para mentir, mas mente porque fala. A pessoa-kitsch pensa que basta dizer 'alfazema' para que o seu auditório experimente imediatamente o ambiente perfumado, à boa maneira do escritor expressionista, pobre de meios, que diz 'merda' e pensa que os leitores vão sentir o cheiro. O espectáculo do kitsch, sendo despudorado, produz atracção e repulsa, solicita a adesão empática ou provoca uma vergonha que faz corar a quem ele assiste. (...)" (AG)
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment