06 December 2016

BURN PUNK LONDON


A 7 de Junho de 1977, coincidindo com a publicação de "God Save The Queen" ("God save the queen, she ain't no human being, there is no future in England's dreaming") e com a celebração do Jubileu de Prata da rainha Isabel, Malcolm McLaren e os Sex Pistols fretaram um barco que navegou pelo Tamisa e onde, frente ao Parlamento, a banda se lançou numa interpretação sísmica de "Anarchy In The UK". Exactamente quarenta anos após o lançamento de "Anarchy..." (a 26 de Novembro de 1976), Joseph Corré, filho de McLaren e Vivienne Westwood, cumprindo a promessa que havia feito em Março passado, a bordo de um outro barco, perto da Albert Bridge, em Chelsea, lançou fogo a uma arca de memorabilia punk avaliada em cerca de 5 milhões de libras, numa acção de protesto contra a “Punk Rock Swindle” que a declaração de 2016 como o “Year Of Punk” – uma iniciativa do British Film Institute, British Library, Design Museum, Museum of London, Photographers' Gallery, Rough Trade e Roundhouse – constituiria. Junto a efígies de David Cameron, Tony Blair, Theresa May e George Osborne (também incineradas), a uma faixa onde se lia “Extinction: your future” e sob bandeiras vermelhas carimbadas com nomes de multinacionais e bancos, Corré disparou: “Bem-vindos ao acto final do 'establishment' punk – uma era em que podemos comprar 'punky nuggets' no McDonalds, possuir cartões de crédito-Anarchy In The UK com uma anuidade de 19% ou calças 'bondage' Louis Vuitton!” E prosseguiu: “O punk nunca, nunca pretendeu ser nostálgico: ofereceu uma oportunidade para a geração 'no future' dos anos 70 descobrir um caminho: não confiar nos media, não confiar nos políticos, investigar a verdade pelos próprios meios. DIY. O punk morreu. É tempo de o incendiar e começar tudo de novo!”



O funeral do punk encenado por Corré terá, sem dúvida, um poder simbólico muito especial no UK do Brexit. Mas não custaria muito ter reparado como, pelo menos, desde há cinco anos, o testemunho foi passado às russas Pussy Riot que não apenas sofreram na pele as consequências dos seus gestos transgressivos – ano e meio nas cadeias do regime proto-fascista de Putin – mas, após a libertação (essencialmente, através da iniciativa de Nadya Tolokonnikova), não desistiram de manter-se permanentemente na ofensiva. Em particular, com uma brilhantíssima colecção online de videoclips: "Putin Will Teach You How To Love The Motherland" (pela libertação dos presos políticos), "I Can’t Breathe" (Nadya e Masha Alyokhina são sepultadas vivas com o uniforme da polícia de choque russa), "Refugees In" (uma performance na Dismaland – uma Disneyland transviada –, do "street artist", Banksy), "Chaika" (sobre o escândalo de corrupção do procurador geral russo, Yuri Chaika), "Straight Outta Vagina" (“Pussy is the new dick, ladies, oh bondage, up yours”), "Organs" (Nadya, num literal banho de sangue: “Shitfaced parliament bans condoms, agony, spasm, big bang of the falling down crown”) e "Make America Great Again" (uma Trumpland distópica). “Flowers in the dustbin, the poison in your human machine”.

1 comment:

zeromilhoes said...

http://www.dailymail.co.uk/news/article-4006564/The-slum-children-shocked-Swinging-Sixties-Britain.html