10 September 2015

PUNK


três semanas, em Rakvere, na Estónia, teve lugar a terceira edição do foneticamente pitoresco Punklaulupidu, isto é, Festival da Canção Punk. Apoiado pelo Ministério da Cultura local, apresentava-se como “uma simbiose do tradicional festival da canção estónio com um grande número de coros e punk rock”. Antes do evento, o maestro Keijo Soome explicava: “As canções que iremos cantar terão arranjos corais polifónicos, embora menos complexos do que os da música coral mais sofisticada – mas é isso que torna tudo emocionalmente mais forte”. O bom amigo YouTube comprova-o: num fim-de-semana animado pensado para o saudável divertimento de toda a família, reviram-se os clássicos (“Anarchy In The UK”, dos Pistols, entusiasticamente cantado por avós, pais e netos de coloridos moicanos) e até o gesto insurreccional das Pussy Riot – a “Punk Prayer” anti-Putin que lhes valeu quase dois anos de prisão – foi reencenado na interpretação de um dinâmico duo de moças, de acordo com a norma marcopauliana, uma loira, outra morena. 



O punk que, há três décadas e meia, Penelope Spheeris (então com 34 anos, ascendência grega, impecável linhagem "white trash", e cuja duvidosa coroa de glória seria Wayne’s World) descobriria em Los Angeles, era um bocadinho diferente: ia já no segundo ou terceiro vómito mas, com bandas como os Germs, Black Flag, X, Circle Jerks ou Fear, permanecia perigoso, imundo, brutal, irremediavelmente marginal, junky, anarca e fetidamente alcoólico. Spheeris capturá-lo-ia no primeiro volume do documentário The Decline Of Western Civilization (1981) que o chefe da polícia de LA desejou ver proibido. O segundo tomo, The Metal Years, lançado sete anos depois, é o sórdido retrato da javardice estética e existencial da cena heavy metal – de Alice Cooper aos WASP e Odin –, terminalmente misógina e ávida de vender o traseiro à indústria pela melhor oferta. O terceiro, de 98 (a trilogia acaba de ser publicada em caixa de 4 DVD), centra-se nos fãs de bandas como Naked Agression, Final Conflict ou Litmus Green, “punks de sargeta”, sem família nem abrigo, mendigos de “a quarter for disorder”, refugiados na parca identidade comum do ódio à polícia e do amor à embriaguez. Em Rakvere, provavelmente, não seriam muito bem recebidos.

1 comment:

Táxi Pluvioso said...

Estónia, fogo! é melhor ir ao Sudão.