08 May 2015

"Reconhecemo-los à distância, mal aparecem no pequeno ecrã a comentar, nos jornais como escritores subalternos e nos postos oficiais onde o culto do arrivismo passa por razão de Estado: são os eternos ex-, os renegados da extrema-esquerda que renunciaram à utopia, os arrependidos de ideias, agora tão realistas por princípio que o seu realismo é uma nova ideologia, tão autoritária como a anterior. (...) Nos casos mais caricatos, o único reflexo mental que têm é o reflexo condicionado: perante uma determinada situação, respondem sempre da mesma maneira e em uníssono. Falam todos a mesma linguagem e caracterizam-se por um espírito reactivo. Têm um estilo. É, aliás, aquilo que neles emerge em primeiro lugar, o que mais se nota: o estilo, um conjunto de traços estereotipados e levados ao estado de exasperação, uma repetição monótona dos mesmos argumentos e dispositivos retóricos (vejam-se dois casos extremos: Helena Matos e João Carlos Espada). A personalidade destes ex-esquerdistas convertidos com devoção à nova ordem (não apenas política, também social, familiar e moral) é também uma estética e confirma-se num gosto por todos os valores seguros: pelo neo-classicismo kitsch; pelos escritores que 'escrevem bem'; pelos cineastas que sabem contar histórias; pelos artistas que exibem o savoir-faire da tradição" (AG)

2 comments:

Anonymous said...

Acho graça às crónicas do António Guerreiro. Desde o tempo do "Expresso" que o acompanho.

Sobre os biltres de esquerda e as mundovidências dos radicais e tantos outros lunáticos que apregoam admiráveis mundos novos com o rabinho sentado no conforto da sociedade de consumo, NADA.

As análises, as críticas, as observações são todas alinhadinhas à direita.

João Lisboa said...

"As análises, as críticas, as observações são todas alinhadinhas à direita"

Também acho. Devia alinhar umas à direita, outras à esquerda e duas ou três ao centro. Há que cuidar da simetria.