13 February 2015

MISSÃO APOLO 


O projecto espacial Apolo, da NASA, cobriu-se de glória ao 11º capítulo quando Armstrong e Aldrin caminharam sobre a Lua, a 20 de Julho de 1969, mas não foi além do 17º, em Dezembro de 1972, ocasião em que Harrison Schmitt, o primeiro geólogo a pousar no vale de Taurus-Littrow, aí recolheu 110 quilos de amostras. Outro lugar existiu, porém, onde a missão Apolo chegou mais longe: a avenida Júlio Dinis, em Lisboa, morada do Drugstore (posteriormente Centro Comercial) Apolo 70, inaugurado, como é de regra, com um ano de atraso sobre o nome, a 26 de Maio de 1971. Não foi o primeiro do género – esse chamou-se Sol A Sol, na Avenida da Liberdade, e data de 1967 – mas poderá, de agora em diante, reivindicar uma relevância histórica ainda maior que restabelece a ligação com a origem mítica do nome: um quinteto de jovens criaturas lusas, em demanda da Constituição Portuguesa de 1976 (uma obra de ficção) no computador da livraria local, prime, por engano “o botão encarnado” e, instantaneamente, o centro converte-se numa imponente "mothership" que os empurra para o que só poderá ser encarado como uma 2015 – Odisseia no Espaço.



Na verdade, o documento áudio da homérica expedição deverá ser oficialmente designado por A Viagem dos Capitães da Areia A Bordo do Apolo 70 e nele, encadernado numa réplica "low cost" da capa de Sgt Peppers, se descobrirão os formidáveis encontros, aventuras e sobressaltos que, de planeta em galáxia, de sistema solar em asteróide, os fazem confrontar-se com singularidades cósmicas e entidades de horror, assombro e mistério como José Cid, Capitão Fausto, Tiago Guillul, Samuel Úria, Rui Pregal da Cunha, Toy, Tiago Bettencourt, Bruno Aleixo, Tiago Pereira, as Adufeiras de Monsanto, Miguel Ângelo ou Manuel Fúria. É o género de "space oddity" em que os major Tom residentes se sentem menos inclinados a estabelecer contacto com o "ground control" do que a encetarem debates sobre minudências linguísticas e a grandeza conservada sob rotações no espaço tridimensional, em decorrência da isotropia (isto é, o momento angular aplicado às bicicletas), pretexto para um portentoso álbum conceptual de loja do chinês, genuína sci-fi em "happy hour", primeiro épico de vão de escada e manifesto inaugural do surrealismo de quiosque.

5 comments:

Anonymous said...

e gostou?

João Lisboa said...

Leia outra vez, sff.

alexandra g. said...

Allow me:

[...]
pretexto para um portentoso álbum conceptual de loja do chinês, genuína sci-fi em "happy hour", primeiro épico de vão de escada e manifesto inaugural do surrealismo de quiosque.
[...]

__
Quite a Bourdieu, I'd say :)

João Lisboa said...

Vous me gâtez, madame.

alexandra g. said...

Always will, gent'