28 January 2015

SALAAM



Qual dos dois é o mais violento, o Corão ou a Bíblia? Existem, felizmente, sites beneméritos que fizeram esse estudo comparativo por nós. Por exemplo, The Skeptic’s Annotated Bible, através do qual se verificará que, se, na Bíblia, podemos ler 1318 passagens de carácter “cruel” ou “violento” (maldições como “E a minha ira se acenderá, e vos matarei à espada; e vossas mulheres ficarão viúvas, e vossos filhos órfãos”), no livro segredado ao ouvido de Maomé pelo mesmo super-herói voador – Gabriel – que, há 2015 anos, deu a uma moça judia a notícia de que ela iria ser o mais célebre caso de partenogénese de sempre, existem 532. Tomando, porém, em consideração a muito maior extensão da Bíblia, deverá concluir-se que, nesta, a percentagem de leitura não recomendada a crianças e espíritos sensíveis é de 3.89% enquanto, no Corão, chega aos 8.45%. O que não deixa de ser inquietante quando nos damos conta que mais de metade da população do planeta acredita num ou no outro. Acatemos, contudo, uma tendência recente de matriz financeira (duplamente inspirada na ingenuidade dos primeiros "westerns" e no pensamento do persa Mani) e separemos os bons dos maus.



Mas, porque é a má reputação dos 8.45% – os que, entre outras enormidades, proclamam “Firmeza, pois! Logo infundirei o terror nos corações dos infiéis; decapitai-os e decepai-lhes os dedos!" – que, ultimamente, mais tem ocupado os espíritos, vale, no entanto, a pena recordar que é a esse quadrante cultural que, sintetizando barbaramente, devemos a poesia de Rûmi (Leonard Cohen: "o maior poeta da divina embriaguez pelo amor"), Omar Khayyām, Abu Nuwas, e Ibn 'Arabi, polímatos geniais como Ibn-Sīnā/Avicena, gigantes musicais como Oum Kalthoum, Mohamed Abdel Wahab, Farid al-Atrash, Sayed Darwish, Hassan Hakmoun ou Nusrat Fateh Ali Khan, lendas como os Master Musicians of Jakouka, a música dos Gnawa, ou a infinidade de géneros (dawr, qawali. malouf, taqsim, mawwal, qadd, muwashah...) através dos quais se exprimem. E, sim, as inúmeras e belíssimas representações do "profeta" (que só por volta do século XVII começaram a ser desencorajadas e não em todo o mundo islâmico) que é possível ver no riquíssimo Mohammed Image Archive. As-Salaam-Alaikum! 

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