08 November 2014


"No final do livro, mais uma nega do rapaz. Ele deixa-se resvalar na cama, como um náufrago, e afunda-se 'num abraço feito de gemidos e suspiros'. Por sua vez, a pele aveludada de Raquel torna-se 'leitosa e arredondada nos seios e nas nádegas'. A garganta começa a 'arquejar de volúpia' e os corpos contorcem-se 'no dueto de um movimento sincronizado'. Os lábios não só se encontravam molhados como 'entreabertos com sofreguidão', sendo ainda 'gulosos e glutões' (p. 572). E as línguas, como estavam elas? 'Sôfregas a digladiarem-se numa refrega sedenta'. A rematar, uma cornucópia de figuras de estilo barrocas e opulentas: 'sinfonia de vagidos ofegantes', 'espada a penetrar em carne', 'pedra áspera na almofada', 'gelo no fogo', 'dança de ritmo crescente', 'bigorna a bater em ferro em brasa'. O corpo, claro, pedia mais e mais, como 'uma locomotiva a acelerar' (em O Último Segredo, como vimos, fomos colhidos por 'uma locomotiva que ganhava velocidade', p. 443). Estando ambos nisto, com bigornas e espadas penetrantes, vagidos e línguas sôfregas, Tomás nega-se. A locomotiva ganhara velocidade, mas Noronha apeia-se a meio do percurso. A espanhola ficou ursa, como seria de esperar, e utiliza uma linguagem algo ousada, mesmo para uma novela JRS: 'Cabrón de mierda! Hijo de puta, coño de maricón!'” (aqui; sequência daqui)

3 comments:

Anonymous said...

Da música clássica: 'sinfonia de vagidos ofegantes' à música industrial: 'bigorna a bater em ferro em brasa'...

No fim de tudo, um cigarro e o silêncio de Cage.

Anonymous said...

Só depois li como terminou a coisa, enganei-me. Bem, a espanhola também podia ser a sandy ou a mandy e se calhar o Noronha teve de ir aos mercados.

João Lisboa said...

"se calhar o Noronha teve de ir aos mercados"

:-))))