16 July 2014

CELEBRAÇÃO


Tivesse Lisbon (2010), penúltimo álbum dos Walkmen, sido um sucesso estrondoso e, muito provavelmente, por esta altura, estariam ao rubro as negociações entre, por um lado, Câmara Municipal de Lisboa e Secretaria de Estado do Turismo e, por outro, Woody Allen e a banda de Hamilton Leithauser, com o objectivo de alcançar o "jackpot" de um filme rodado à beira Tejo com banda sonora da mais pura extracção indie norte-americana. Porém, nem, aparentemente, Allen se deixa seduzir pelo património imaterial da UNESCO e pelos Grammies Latinos nem os Walkmen, com Lisbon ou com o derradeiro Heaven (2012), lograram ir além do habitual aplauso crítico que, contudo, não chega para provocar abalos sísmicos nas tabelas de vendas. Tanto assim foi que, após 13 anos e sete álbuns, optaram por declarar-se em “extreme hiatus” e ir cada um à sua vida. 



Do que, a avaliar pelas consequências, não terá resultado nenhuma irreparável perda: o baixista Peter Matthew Bauer publicou Liberation!, o teclista Walter Martin decidiu-se por um álbum de canções infantis, We’re All Young Together (com Matt Berninger, dos National e gente dos Yeah Yeah Yeahs, Clap Your Hands Say Yeah ou dos próprios Walkmen), e, para o que, agora, interessa, Hamilton Leithauser, confessadamente inspirado por In The Wee Small Hours e September Of My Years, de Frank Sinatra, propõe Black Hours. Deverá, entretanto, dizer-se que o factor-Sinatra apenas actuou, de forma magnífica, nas sumptuosamente orquestrais "5 AM", "The Silent Orchestra", "St. Mary’s County" e ‘Self Pity’. Porque, no momento em que Rostam Batmanglij, dos Vampire Weekend, na qualidade de co-compositor e produtor informal, entrou em cena, juntamente com Amber Coffman (Dirty Projectors), Morgan Henderson (Fleet Foxes), Paul Maroon (Walkmen) e Richard Swift (The Shins), reconfigurou o plano original, convertendo Black Hours numa gloriosa e vibrantemente detalhada celebração de pop/rock que, sem abdicar de tiradas "à la" Casablanca“I retired from my fight, I retired from my war, no one knows what I was fighting for”, de "I Retired", por exemplo –, terá sido, porventura, aquilo que os Walkmen, afinal, sempre perseguiram. Prémio de consolação para olisiponenses militantes: "The Smallest Splinter", primeira canção a ser composta para o álbum, nasceu ainda em Lisboa.

3 comments:

Táxi Pluvioso said...

Lisbon? John Lisbon?

João Lisboa said...

Oui, c'est moi.

soso said...

zzzzzzzzzzzzzzzz Arquivar na secção dos National. A banda sonora ideal para aspirantes a poetas (do pé descalço).