22 March 2014

"Para um frequentador compulsivo de livrarias essa voz dos livros não é estranha, mas nunca me tinha perguntado sobre as suas razões e, em cada caso, há razões. Como quase tudo o que é interessante na vida é movido a curiosidade, o grande motor intelectual de sempre. Surpreende-me aliás o pouco que se escreve sobre a curiosidade, dado o papel que ela tem no modo como nos movemos pela cabeça e pelo corpo. Pode-se assistir a dezenas de colóquios e debates sobre o conhecimento, a inovação, a aprendizagem, a escola, as empresas, a arte, a literatura, e embora haja referências à curiosidade, de um modo geral está subvalorizada. Posso-me enganar, mas sem curiosidade é-se pouco mais do que um idiota especializado, com ênfase no idiota" (JPP)

8 comments:

alexandra g. said...

Permito-me acrescentar um outro tipo de curiosidade, aquela que põe gente a mexer e a desmontar e a montar e a articular e a criar de outras formas, pessoas muito distantes da idiotia e que nunca leram um livro, fosse por não terem aprendido a ler, fosse por apresentarem um desinteresse/interesse secundário face às outras peças do mundo, como os livros.

O JPP consegue ser muito parcial quando quer, isto é, quando o alvo a abater precisa de ser desintegrado e que se lixem as vítimas dos estilhaços.

Já não é a primeira vez que me apetece fazer-me à estrada e ir à Marmeleira pregar-lhe meia dúzia de tabefes e obrigá-lo a comer a sopa toda. Por exemplo.

Anonymous said...

Esta coisa da cultura e das leituras tem muito que se lhe diga. Prefiro Zen.

João Lisboa said...

... mas, por esse tipo de curiosidade - "aquela que põe gente a mexer e a desmontar e a montar e a articular e a criar de outras formas" - existir, isso não exclui necessariamente a outra.

alexandra g. said...

Claro que não, chega a existir gente que leu um único livro durante toda a sua vida e tanto bastou para uma rara sageza.

Anonymous said...

O Pacheco é o exemplo mais perfeito da diferença entre saber e sabedoria.

Um homem culto mas muito fraco em sabedoria.

Anonymous said...

"Eu não gosto muito de ler. Meu irmão mais velho, de três em três meses, aparece em casa com vários livros, dizendo: "esse você precisa ler, Ian". Mas eu não tenho muita paciência. Acho que é porque a história dos livros nunca é a história real, por mais que tente ser.[...] Livros são muitas palavras e palavra por palavra eu prefiro palavras cruzadas".

Ian McCulloch

Fonte: http://www.screamyell.com.br/musica/ianinterviewmac.html

Anonymous said...

Salmos 42
versículo 7 Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas e as tuas vagas têm passado sobre mim.

'para a vala comum, já!'

João Lisboa said...

"Um abismo chama outro abismo"

Já anulei o voto com essa. Mas em latim - "abyssus abyssum invocat" - que é mais fino e sempre desorienta os escrutinadores.