29 January 2014

REGICIDAS


Gastem algum tempo útil no YouTube e procurem as “Ralph’s Balcony Sessions”. No total, são vinte videoclips mas, se preferirem apanhar logo a ideia geral, podem começar pelo último: a canção é "Choices" e Ralph (na única vez fora da varanda/"balcony" do seu 15º andar em Londres), uma espécie de jovem Richard Thompson, passeia-se num jardim dedilhando a guitarra acústica e cantando as primeiras estrofes. Pouco a pouco, vários outros vão-se-lhe juntando – um quarteto de cordas e outro de sopros, teclado, guitarras, bateria, gente dos To Kill A King, Bastille, We Were Evergreen, Youth Imperal, Title Sequence, Professor Penguin, Emily Wood, no final, à volta de duas dezenas – e contribuindo para as sucessivas alterações de mood e o formidável crescendo final de uma elegia que começa por “I never took away your crutch, just became it day by day, blood filling up our boots, this is how the summer ends”. São todos eles, se quiserem, a segunda vaga daquele sobressalto londrino que, entre diversos outros em pausa ou ainda na sombra, nos ofereceu a preciosa Laura Marling, projectou os Mumford & Sons para o primeiro plano norte-americano e, por instantes, logo rápida e desgraçadamente desperdiçados, nos fez escutar The First Days Of Spring (2009), dos Noah & The Whale. 



Mas o que, agora, importa são os To Kill A King, de Ralph Pelleymounter, e Cannibals With Cutlery, álbum de estreia, publicado em Fevereiro do ano passado e reeditado com quatro faixas adicionais em Outubro – mais outro caso de pepita que não foi registada pelos radares na devida altura. Coisa particularmente indesculpável uma vez que a presença da banda na Net não é, de todo, preguiçosa (para além das “Balcony Sessions” – em que, um a um, os convidados que se reúnem em "Choices" vão desfilando pela varanda, interpretando temas dos TKAK –, uma apreciável colecção de outros óptimos vídeos e um site bem activo) mas, sobretudo, porque tão magnífica música não merece passar despercebida. Pensem no que poderiam ser uns National britânicos (imaginam-nos a cantar “I must make more friends, they'll be hanging at my funeral, just to make my parents proud”?) com as mesmas e simultâneas complexidade e urgência. Recordem, aqui e ali, a riqueza orquestral de The First Days Of Spring e a destreza de escrita dos primeiros Aztec Camera. O país que viu nascer Manuel Buíça não está autorizado a ignorar To Kill A King.

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