02 October 2013

A CATEDRAL POP

  
Os Beach Boys, individual e colectivamente em variados estados de conservação (desde o irremediavelmente falecido ao severamente perturbado), em 2012, comemoraram 50 anos de carreira. O que, se os coloca ao lado dos Rolling Stones no topo da lista dos jurássicos do pop/rock, não serve, verdadeiramente, como justificação para, durante esse mesmo período de tempo, terem sido objecto de mais de 30 álbuns de compilações, “greatest hits” e afins, numa média catita superior a um, ano sim, ano não. Grande parte deles resulta apenas, obviamente, do reflexo pavloviano de caixa registadora da indústria. Dos restantes, embora igualmente decorrentes de idênticos impulsos, há uma parcela valiosa que optou por juntar o útil ao agradável: assinalar uma efeméride ou gravação particularmente relevantes e acrescentar-lhe mais valia estética e/ou informativa significativas. Isto é, não maldizemos quem, por exemplo, nos proporcionou a possibilidade de ferrar o dente no obsceno (e quádruplo) banquete sonoro de The Pet Sounds Sessions (1997), no outro – imperialmente quíntuplo e não menos opíparo – de The SMiLE Sessions (2012), ou, para o que, de momento, interessa, no autêntico festim que já era Good Vibrations: Thirty Years of The Beach Boys (1993), sêxtuplo e, então, aparentemente exaustivo e inultrapassável. 



De facto, só aparentemente. Porque, prolongando as festividades do meio século – que, surpreendentemente, operaram o milagre da reunião dos elementos sobreviventes da banda (até aí, entregues ao desporto de se subdividirem em diversas versões dos Beach Boys com a inevitável colecção de processos e contra-processos judiciais para decidirem quem era o legítimo detentor do "brand name"), os relançaram em digressão e deram lugar ao registo de um irregular disco de originais,That’s Why God Made The Radio –, surge, agora, Made in California (1962–2012), novo pretexto para opulenta degustação musical em menu de seis pratos. Constituindo, na realidade, um "update" da ementa de 1993, se esta propunha 142 faixas, a nova compilação apresenta 174, das quais 60 nunca foram, antes, oficialmente publicadas, integrando-se nelas 17 gravações ao vivo e 20 canções, tanto umas como outras, inéditas. É natural que quem frequente o "bas-fond" dos "dealers" profissionais de material ilícito já possa ter travado conhecimento com algumas e seja até de opinião que, a partir de determinado ponto, não compensa continuar a garimpar o filão Beach Boys. Mas, perante tal vastidão do arquivo (e os produtores garantem que o número total de faixas poderia ter, facilmente, chegado às 300...), algo existe em que é impossível não reparar: os piores paladinos do prog/sinfónico não estavam inexoravelmente condenados a transformar o rock num mamarracho caricatural de clássicos-"for-dummies" – a via-Brian Wilson de enriquecimento e sofisticação do idioma pop sem o esquartejar nem desfigurar deveria ter sido suficientemente persuasiva. Ou, citando Lester Bangs que era pouco dado à filigrana, “escutar os Beach Boys no seu melhor é como entrar, em sonhos, numa vasta catedral decorada com mil ícones cintilantes da cultura pop americana”.

7 comments:

alexandra g. said...

Eu é que também tenho o direito de colocar perguntas:

- o que é que lhe deu para os Beach Boys após uma, a, June Tabor (tenho 1 CD antigo, respeitinho :) ?

João Lisboa said...

Qual o problema? Os Beach Boys são óptimos. Uma coisa não exclui a outra.

E já há muito tempo que não bajulo os ABBA.

alexandra g. said...

Oh que chato :)

João Lisboa said...

Moi?!!!...

alexandra g. said...

Vu**************************************************************************************


:)

João Lisboa said...

VU: http://www.youtube.com/watch?v=FjjDmX9Tkss

AEME said...

"That's Why God Made The Radio" um álbum quase conceptual que saiu no verão 2012.
Dentro de algum tempo será uma peça de culto para os apreciadores.
Basta ouvi-lo sem preconceitos e encontramos a história sonora deles desde o início até provavelmente o fim com o "Summer's Gone".
Talvez tenha sido o último acto de génio do Brian Wilson.