19 December 2012

“All of it’s acting, really”
 

Charlie Is My Darling/The Rolling Stones Ireland 1965 - Real. Peter Whitehead (DVD) 

Peter Whitehead, ex-aluno do departamento de cinema da Slade School Of Art, em 1965, tinha ainda filmado apenas um documentário educativo sobre ciência (The Perception Of Life) e Wholly Communion – registo da International Poetry Incarnation, um encontro, no Royal Albert Hall, de poetas da "beat generation" (Allen Ginsberg, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso) e satélites situacionistas (Alexander Trocchi) – e não era ainda o herói contracultural em que se transformaria com Tonite Let’s All Make Love In London (1967) e Daddy (1973, com Niki de Saint Phalle). Bastou Wholly Communion, porém, para atrair a atenção de Andrew Loog Oldham, manager dos Rolling Stones, no exacto momento em que estes, com “(I Can’t Get No) Satisfaction”, haviam destronado os Beatles dos tops britânicos e se preparavam para um digressão de dois dias pela Irlanda.




Oldham desafiou-o a filmar a banda, em palco e nos bastidores, tendo como referência A Hard Day’s Night, dos Beatles, e Whitehead olhou-os como, por essa mesma altura (mas só dois anos mais tarde o saberíamos), D.A. Pennebaker observava Dylan, em Dont’Look Back. Charlie Is My Darling (alusão a uma melodia tradicional irlandesa), contudo, ficaria, durante quase cinco décadas, inédito – versões apócrifas de 30 e 50 minutos circularam quase confidencialmente – para ser redescoberto, agora: a preto e branco, durante 62 minutos, Mick Jagger augura que os Stones durarão, no máximo, mais ano e meio; nas salas de Dublin e Belfast, o eficaz quinteto de rock/blues desencadeia tumultos; nos camarins, os Glimmer Twins macaqueiam Elvis e Fats Domino; cá fora, desmontam o jogo (“All of it’s acting, really”), e, no longínquo universo neo-realista que era a Irlanda dos anos 60, assistimos, em directo, ao parto do mundo que conhecemos hoje. 

2 comments:

Anonymous said...

"assistimos, em directo, ao parto do mundo que conhecemos hoje"

Do mundo ... artístico, I suppose
Nuno Gonçalves

João Lisboa said...

E do outro também.