09 March 2012

REGRESSO À MATRIZ


















Carminho - Alma

Fadista que era fadista, nos tempos heróicos ainda apenas à distância de três ou quatro gerações (criatura castiça que Pinto de Carvalho/Tinop, na sua História do Fado, definia como “produto heteromorfo de todos os vícios” que realizava a proeza de atingir “a perfeição ideal do ignóbil”), movimentava-se no interior de um universo cujo raio – se descontarmos a romântica tese acerca das origens do fado a bordo das caravelas – era pouco mais amplo do que o do homem medieval: entre a taberna e o beco, a coreografia da navalhada e o “círculo vicioso dos coquetismos perturbadores e ligeiramente exóticos do canalhismo", desenhados na “atmosfera microbiana dos bairros infectos” que esse “Valmont de espelunca” preferia frequentar. E a descrição das suas companheiras de arte e farra era absolutamente a condizer.

Carmo Rebelo de Andrade, fadista, 28 anos, licenciada em Marketing & Publicidade, antes de gravar o primeiro álbum (Fado, 2009), fez questão de viajar por quase duas dezenas de países da Ásia, Oceânia e América do Sul para respirar mundo e se envolver em acções humanitárias. A área do terreno pisado, sem dúvida, dilatou-se mas, curiosamente, o fado de Carminho (sem ser, de modo algum, idêntico ao que se imagina que seria o das Severas, Marias Romanas e Umbelinas Cegas), de entre as novas vozes – em Fado mas igualmente, agora, neste Alma –, é o mais arrebatadamente tradicional. Se Cristina Branco ou Camané, com enorme economia de gestos, lançaram uma outra luz sobre ele, Carminho (note-se: infinitamente mais valiosa que qualquer Mariza comum), no estilo vocal, na escolha dos textos e temas, parece ter optado pelo recuo em direcção à matriz primordial. O que, se lhe vai, indiscutivelmente, a carácter, também a encerra num figurino demasiado estreito e desnecessariamente purista.

(2012)

1 comment:

Táxi Pluvioso said...

Um fadinho e portuguese egg tarts make jack a happy boy. bfds