Goldfrapp - The Singles
Não é, de todo, que os treze anos da carreira dos Goldfrapp (aliás, Alison Goldfrapp e Will Gregory) se tenham traduzido apenas por um estatuto de culto confidencial, pouco frequentador de tabelas de vendas e distinções da indústria: possuem ouros, platinas, nomeações e prémios suficientes para tornar verde de inveja boa parte da concorrência. Mas, se tudo tivesse corrido verdadeiramente muito bem, por esta altura, deveriam já encontrar-se a caminho daquele Olimpo das divindades pop onde conviveriam diariamente com gente como os ABBA ou T. Rex e aí seriam acolhidos como pares de pleno direito. Não é ao calhas que se jogam para a conversa os nomes do quarteto de "Super Trouper" ou da banda de Marc Bolan: a discografia Goldfrapp é daquelas em torno das quais se estruturaria facilmente um "workshop" acerca da requintada arte pop de construir canções musicalmente complexas mas que, ao mesmo tempo, se barricam nos tímpanos, impedindo qualquer hipótese de despejo.
E, porque é disso que se trata, naturalmente, uma compilação de singles é uma das mais apropriadas formas de contribuir para a sua maior e merecidíssima glória. Aproveitando para reparar como nesta colorida proveta sonora borbulham e se combinam de modo mais que perfeito moléculas dos Blondie, dos Beatles, de Donna Summer, das bandas sonoras lustrosamente góticas que Morricone deveria ter escrito para David Lynch (Lana Del Rey, toma e embrulha!), do "disco"-versão-Moroder, de fluorescências "electro-glam", das cinzas do trip hop de que Alison e Will emergiram, tudo atapetando décors de banda desenhada S&M, festiva decadência (“don’t want it Baudelaire, just glitter lust”) e adorável luxúria pedrada (“Think I want you still but it may be pills at work”). Como sempre deveria ser.
(2012)
No comments:
Post a Comment