02 October 2011

HISTÓRICO, SIM
(sequência daqui)

















Fernando Alvim & Vários - Fados & Canções do Alvim

Abusa-se desvairadamente da classificação de “histórico”. Mas, se existe caso a que ela se aplique sem qualquer relutância, é o de Fernando Alvim e deste seu primeiro álbum em nome próprio. Aos 76 anos, e após uma trajectória em que, durante 24, acompanhou Carlos Paredes e, antes, durante e depois, se cruzou com o fado, o jazz, a bossa-nova e praticamente todos os nomes da música portuguesa que contam, num jorro único, publica dezoito fados e dezassete canções e entrega-os às vozes daquilo que se poderia correctamente designar como um "who’s who" da música popular portuguesa contemporânea. Um pouco à maneira de A Guitarra e Outras Mulheres (1998), de António Chainho – mas sem a cláusula de género desse e com o triplo da extensão –, em que Alvim também participou, Fados & Canções do Alvim arruma, num primeiro disco, fados propriamente ditos (embora livres de tiranias “puristas”) e, no segundo, bossas, boleros, tangos e, genericamente, canções de bilhete de identidade fluído.



O primeiro (essencialmente, Fernando Alvim, os guitarristas Bernardo Couto e Ricardo Parreira e as diversas vozes) é, literalmente, umas melhores colecções de fados e exemplares interpretações dos últimos anos, com o clã Moutinho – Pedro, Hélder e Camané – em forma imperial, Ana Moura, Cristina Branco, Ricardo Ribeiro, Carminho, Ana Sofia Varela e Gisela João enquanto monumental guarda de honra e os clássicos Carlos do Carmo, Rodrigo e Vicente da Câmara lançando a ponte sobre a tradição. Do outro lado, em “Fim de Tarde a Sonhar”, Cristina Branco assiste ao "rebirth of the cool", Amélia Muge, “De Mim Para Mim”, nacionaliza o bolero, Marta Dias swinga num cais “Luminoso” e, com os restantes (Fafá de Belém, Filipa Pais, Vitorino... podem atirar um nome à sorte, é bem provável que lá esteja), abrem a cortina sobre o lado mais soalheiro de Fernando Alvim. Histórico, sim.

(2011)

1 comment:

Táxi Pluvioso said...

Obviamente. O povo português é o povo mais fazedor de história do mundo.