RÉPLICA EXACTA
Cults - Cults
A frase poderá ser reescrita de diversas formas mas, nestes casos, o argumento da defesa assenta sempre numa ideia-chave: a banda apropria-se de múltiplas referências já inúmeras vezes citadas mas insufla-lhes uma nova energia. Não estou a inventar, tropeça-se nela a cada esquina e, para o que, agora, interessa, também no caso dos Cults. Traduzindo, por isto se pretende dizer que nos encontramos perante mais outro daqueles grupos – aqui, o duo californiano relocalizado em Nova Iorque, Madeline Folin e Brian Oblivion – que, garimpando avidamente o filão Phil Spector/Motown/"girl groups", tal como muitos outros antes dele (Zooey Deschanel/She & Him, Concretes, Camera Obscura ou, definitivamente o "state of the art" na matéria, God Help The Girl), substitui o esforço de invenção pela concentração na réplica exacta do original, oferecendo uma espécie de colecção "fake" de raridades inéditas dos mestres, apenas com assinatura diferente para evitar sarilhos legais.
Nesse domínio, os Cults são, sem dúvida, extraordinariamente competentes na manipulação dos "genre signifiers", ainda que, aqui e ali, a pratiquem de modo excessivamente óbvio: "Bumper" escusava de fotocopiar tão escancaradamente a melodia de "Give Him a Great Big Kiss", das Shangri-Las, e "You Know What I Mean" e "Most Wanted" teriam levado na mesma a água ao seu moinho sem que, à transparência, tivessem de deixar adivinhar com tal nitidez a silhueta das Supremes. Mas são reparos menores: Cults é uma "period piece" de óptimo recorte, um trabalho de reconstituição realizado com minúcia e dedicação que, como todos os seus parentes próximos, acaba por nos oferecer a possibilidade de, consoante a hora, a temperatura ou o estado de espírito do momento, optarmos por peças "vintage" ou pelos seus sucedâneos actualizados.
(2011)
23 August 2011
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