PATCHWORK
Bon Iver - Bon Iver
O tipo que, há três anos, procedendo de acordo com o manual de instruções do bom hippie, se recolheu à proverbial cabana no bosque e aí sublimou desastres sentimentais em acordes de guitarra acústica e melodias entoadas por uma voz de querubim castrado (assim o escutámos em For Emma, Forever Ago), já não existe. Esclareça-se: Justin Vernon/Bon Iver continua vivo e, como se imaginaria, facialmente hirsuto, mas aquilo que se descobre no homónimo segundo álbum não poderia situar-se mais longe da folk que rima com riachos e adejar de colibris. Acompanhar Kanye West em My Beautiful Dark Twisted Fantasy deve ter-lhe arejado as ideias de tal modo que, em comparação com For Emma, Bon Iver soa quase... wagneriano.
O incomodativo "falsetto" permanece mas, integrado como, agora, se acha numa muito mais rica paleta de timbres e enquadramentos sonoros – cada canção, como que, concretizando, em miniatura, o projecto dos cinquenta estados de Sufjan Stevens, ostenta o nome de uma cidade, real ou imaginária, e respectivo cenário musical –, actua como apenas mais um recurso quase instrumental nesta colecção de amáveis experimentalismos de câmara. Das frágeis fantasmagorias electrónicas de "Hinnom, TX" e "Lisbon, OH", à pop cripto-byrdsiana de "Towers", às sinfonias de bolso de "Wash." e "Michicant" (percursos improváveis entre cordas, orgão litúrgico, valsa de carrossel em câmara lenta e micro-improviso "free form" liquefeito), ao simulacro de Peter Gabriel de "Calgary" ou ao francamente óptimo mosaico de "Perth", o "free-folk" poderá ter perdido um dos seus profetas mas a pop (na ausência de qualificação mais apropriada) é bem capaz de ter ganho um novo artesão particularmente talentoso no domínio do "patchwork".
(2011)
1 comment:
a cover dele do "who is it" da björk é linda :)
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