18 July 2011

RETROMANIA


















Joy Division/New Order - Total/From Joy Division To New Order

Nas primeiras linhas da "Introdução" de Retromania: Pop Culture’s Addiction To Its Own Past, de Simon Reynolds – 458 páginas absolutamente decisivas para a navegação sem demasiados acidentes no oceano da cultura (não exclusivamente) pop contemporânea –, pode ler-se: “Vivemos numa idade pop enlouquecida pelo retro e obcecada por comemorações. Reunificações de bandas e tournées de regresso, álbuns de homenagem e 'box-sets', festivais de aniversário e interpretações ao vivo de álbuns clássicos. Será que o maior perigo para o futuro da nossa cultura musical é... o seu passado? Talvez isto soe desnecessariamente apocalíptico. Mas o cenário que estou a imaginar não é o de um cataclismo mas o de uma gradual perda de gás. A pop chegará ao fim não com um BANG mas com um 'box-set' cujo quarto disco nunca chegaremos a escutar e com um bilhete caríssimo para o concerto em que os Pixies ou os Pavement executarão aquele álbum que ouvimos até ao vómito no primeiro ano da faculdade”.


New Order - "Ceremony"

É capaz de não ser fácil imaginar quanto isto é verdade e de que forma, semanalmente, se vão acumulando caixotes sobre caixotes de reedições de outras reedições anteriores. O catálogo Joy Division/New Order já tinha sido submetido a este processo mas, hélas!, faltava ainda o formato "best of" em edição conjunta. Comprimido em dezoito faixas, só poderia ser severamente incompleto. Mas francamente pior do que isso é o tom patologicamente retromaníaco das "liner notes" de David Quantick que, para demonstrar a superior magnificência da banda de Ian Curtis e descendência directa, lança mais uma outra pazada sobre qualquer vaga hipótese de futuro: “Ainda hoje, podemos silenciar o entusiasmo de um fã adolescente pelo seu grupo de rock favorito, chamando-lhe a atenção para que, seja ele qual for, não é os New Order nem os Joy Division”.

3 comments:

Anonymous said...

“Ainda hoje, podemos silenciar o entusiasmo de um fã adolescente pelo seu grupo de rock favorito, chamando-lhe a atenção para que, seja ele qual for, não é os New Order nem os Joy Division”

Bela manifestação do Complexo de Cota.

João Lisboa said...

"Complexo de Cota"

Então "cota pós-punk" tem todo um outro sabor...

Anonymous said...

"em que os Pixies (...) executarão aquele álbum que ouvimos até ao vómito no primeiro ano da faculdade"

Isto é fisiologicamente impossível. E olhe que, nos anos 90, eu e os meus amigos tentámos c varios albuns :-))

"Ainda hoje, podemos silenciar o entusiasmo de um fã adolescente pelo seu grupo de rock favorito, chamando-lhe a atenção para que, seja ele qual for, não é os New Order nem os Joy Division”

Quando ouve um adolescente falar de Strokes, F Ferdinand, Artic M. e companhia, o JL, pelo menos mentalmente, tb faz comparações pouco abonatórias para as novas bandas. Não é?

Cumprimentos (e desculpe a provocação)
Nuno Correia