CHÁ DE TÍLIA
Thurston Moore - Demolished Thoughts
Um tipo que veio ao mundo a bordo de uma banda chamada Sonic Youth nunca será facilmente encarado como um veterano do rock, mesmo que já entrado na quinta década de vida e com uma discografia (com os SY, a solo e em inúmeras colaborações e actividades extracurriculares) mais do que suficiente para dividir com dois ou três colegas e nenhum ficar com o rótulo de preguiçoso. Mas não apenas nem principalmente por isso: tanto ao lado de Kim Gordon, Lee Ranaldo e Steve Shelley como em outros devaneios, ninguém será capaz de descobrir os estigmas de uma música que tivesse ficado irremediavelmente prisioneira de uma época ou sequestrada pelos miasmas da nostalgia: mais identificavelmente rock ou liberrimamente aventureira e experimental, aquilo a que Moore e cúmplices avulsos, há trinta anos ou anteontem, sempre se entregaram foi, justamente, o género de explorações sonoras para que foi criado o adjectivo “contemporâneas”. O que torna um álbum como Demolished Thoughts francamente inexplicável. É verdade que já existiam sinais precursores em Psychic Hearts (1995) e Trees Outside The Academy (2007) para este baixar da guarda eléctrica e incursão no formato-canção. Mas testemunhar a eclosão de um Thurston empenhado numa espécie de variação "unplugged" dos SY, tricotando amenidades de suposto "avant-folk" por entre violinos e chilreio de harpas, é o género de sintoma que faz pensar se Mr. Kim Gordon não terá entrado naquela fase (assaz evitável) da vida em que alguns cavalheiros se arrepiam de angústias e incertezas. Talvez seja preferível, no entanto, lançar as culpas para a produção de Beck Hansen (a Cientologia dá cabo da cabeça de qualquer um) e esperar que este chá de tília para salão de vicentinas não tenha passado de um descuido.
(2011)
12 July 2011
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7 comments:
ainda não ouvi o disco para ter opinião (apesar de não ser condição sine qua non). deixo aqui outra http://atalhodesons.blogspot.com/2011/07/thurston-moore-demolished-thoughts.html
e assim ficamos com 2 (alguém me pediu alguma coisa?) de quem eu muito prezo e a quem muito devo…
Olha, o Luis Peixoto foi mais benévolo.
Obrigado, Manuel.
É engraçado que eu gostei do disco. Fiquei surpreendido com a forma como Thurston explora o formato de canção em regime acústico. Não podemos esperar que, só porque faz parte dos SY, os seus discos a solo sejam trabalhados no mesmo terreno estético.
Mas percebo o ponto de vista do João...
"Não podemos esperar que, só porque faz parte dos SY, os seus discos a solo sejam trabalhados no mesmo terreno estético"
Ele até podia ter gravado madrigais do Monteverdi tocados em kazoo. Era preciso é que resultasse bem.
Ah ah, "madrigais do Monteverdi tocados em Kazoo" é uma excelente ideia! Qualquer dia ponho mãos à obra nisso (ou numa ideia semelhante) ;-)
" ... Mr. Kim Gordon ..."
Afinal não era gralha do texto do Expresso
Claro que não.
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