11 May 2011

NEIL/PHIL



Neil Young é a prova definitiva de que não é, de todo, imprescindível pertencer ao clube dos virtuosos mais rápidos do que a própria sombra para, aos 65 anos, ser um dos raríssimos guitarristas de rock (de todas as idades) capazes de continuar a empurrar o vocabulário do instrumento para domínios virtualmente inexplorados e Jonathan Demme é, muito provavelmente, o único realizador de cinema vivo para quem filmar um concerto pressupõe uma exigência estética que vai muito além da acrobacia dos ângulos e da montagem mais ou menos frenética. Do encontro dos dois – iniciado, em 2006, com Heart Of Gold, uma prodigiosa encenação cinematográfica do concerto de estreia do álbum Prairie Wind, no Ryman Auditorium, de Nashville – seria, então, difícil que resultasse outra coisa que não o mais memorável filme da secção Indiemusic, da edição deste ano do IndieLisboa.



Trunk Show toma como pretexto duas noites de concerto, no Tower Theatre de Filadélfia, em 2007, durante a digressão decorrente da publicação de Chrome Dreams II e, com um mínimo de distracções extramusicais (um pintor naïf que pincela telas em contraponto com as canções, um “sultão”-anão executante de gong), conduz música e imagens por vias paradoxalmente paralelas e convergentes: se, por um lado, concentrando-nos apenas na música, nos deparamos com o que é, indiscutivelmente, o melhor “álbum” de Neil Young desde há muito (o equilíbrio acústico/eléctrico é autenticamente milagroso e, nos 20 minutos de pura demência eléctrica free-form de "No Hidden Path", perde-se, literalmente, o pé), por outro, descobrimo-nos perante o terceiro volume (depois de Stop Making Sense, 1984, e o já referido Heart Of Gold) da trilogia de referência de Demme sobre o trabalho de composição fílmica para concertos de rock e a indissociável modulação das imagens em sintonia com a curva musical.



Outra estreia a não perder é The Agony And The Ecstasy Of Phil Spector, de Vikram Jayanti, tragicomédia documental que monta em paralelo uma extensa, patética e megalómana entrevista do inventor da "wall of sound", imagens do seu julgamento – entre 2007 e 2009 – pelo homicídio da actriz Lana Clarkson (no qual foi condenado a uma pena de 19 anos de prisão) e videoclips dos diversos músicos com quem trabalhou (das Ronettes aos Beatles), desenhando o perturbador perfil de um génio que não hesita em comparar-se a Da Vinci ou Bach e ridiculariza Brian Wilson, coabitando no corpo de um misógino violento, psicótico e perverso, ataviado como um dandy senil e decadente. Bastante menos interessantes são John Lennon – Love Is All You Need, de Alan Byron, revisão de estafado material biográfico assente numa cansativa sucessão de depoimentos em que (por motivos contratuais) nem uma semifusa da música dos Beatles ou de Lennon se escuta, Lemmy, de Wes Orshoski, em torno do ícone-heavy metal dos Motörhead, em registo idêntico ao anterior mas com uns intoleráveis 116 minutos e This Movie Is Broken, de Bruce McDonald, que retoma o modelo de 9 Songs, de Michael Winterbottom (2004), ensaiando um falhadíssimo contraponto entre um concerto dos Broken Social Scene e uma narrativa onde o registo "softporn" de Winterbottom é substituído pelo de telenovela "indie-light".

(2011)

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