CLUBE GOURMET
A Presença das Formigas - Ciclorama
No resto, não se sabe. Mas, em matéria de música, ninguém tenha dúvidas que a dieta de A Presença das Formigas é de requintadíssimos "gourmets". Naquela mesa, só entram os melhores produtos de confecção tradicional e de origem local ou internacional. Isto significa que aquilo que, no álbum de estreia do septeto do centro-norte luso, se escuta foi já bastamente decantado e destilado nos alambiques de Fausto, José Afonso, Sérgio Godinho, Gaiteiros de Lisboa e Amélia Muge e, por isso mesmo, o que de cada um dos ingredientes se identifica são apenas as mais subtis essências combinadas em doses infinitesimalmente exactas com sabedoria de perfumista. O espectro de aromas e paladares, porém, não se fica por aí e não é difícil apercebermo-nos de que, aos anteriores, se acrescentam segredos e procedimentos aprendidos (directa ou indirectamente) junto de luminárias do folk-rock britânico (Fairport Convention e, particularmente, Pentangle), eventualmente gaulês (jurava ter tropeçado em vestígios de material genético de La Bamboche), mas também oriundos de coordenadas menos previsíveis mas, indiscutivelmente identificáveis e melhor digeridas como é, garantidamente, o caso do civilizadíssimo prog-rock de marca Gentle Giant. E arabismos mediterrânicos. E penumbras fadistas. E liberdade de movimentos jazzística em contraponto com disciplina de composição contemporânea. Tudo moldado sob a forma de canções que André Cardoso (guitarras, oud, cavaquinho), Cecília Peçanha (flautas), Filipa Meneses (teclados), Luís Arrigo (percussões), Manuel Maio (violino, bandolim e cavaquinho), Miguel Cardoso (baixo, guimbarda) e Teresa Campos (voz) elevam às mais oxigenadas alturas da música portuguesa de hoje.
(2011)
(2011)
2 comments:
Caro João Lisboa,
Muito obrigado pela sua excelente crítica que muito nos lisonjeia e anima.
A procura das influências é um desafio aliciante e de facto foi bastante certeiro nas suas suposições. Contudo no que diz respeito ao folk-rock há um grupo que me marcou especialmente, os Jethro Tull. Quanto a Pentangle e La Bamboche não conheço, mas aguçou-me a curiosidade...
Obrigado uma vez mais, ficámos todos muito entusiasmados com a crítica.
Com os melhores cumprimentos,
Manuel Maio
Por estranho que pareça, só agora reparei no seu comentário. Justamente quando estava a ouvir "Pé de Vento".
:-)
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