PEGADAS
Aquaparque - Pintura Moderna
Abandonar o centro para, após o ter relocalizado noutro lugar geométrico, o voltar a ocupar. Não é estratégia nova nem sequer extraordinariamente distante daquela outra que, há várias décadas, Bryan & Brian raptaram para o perímetro pop e designaram como "Re-Make/Re-Model". É, aliás, sintomático que Brian (Eno) apareça no ramalhete de alusões estéticas que acompanha a publicação de Pintura Moderna, ao lado de tão diversa gente quanto Stock, Aitken & Waterman, Trevor Horn, Jellybean Benitez, Vince Clarke e Bill Laswell. E costuma ser também o procedimento através do qual sucessivas gerações pop mudam de pele - tal como no embrulho-manifesto se alega - acercando-se dos velhos materiais para reproduzir-lhes os códigos, trocando-lhes a lógica.
Pedro Magina (voz, Casio Tonebank, Yamaha DS55, harmónica, percussão) e André Abel (voz, programações, guitarra), gente de Santo Tirso com percursos paralelos e anteriores (enquanto Aquaparque haviam já editado, em 2009, É Isso Aí), redescobrem, então, as pegadas que, em outros anos, levaram Pop Del’Arte ou Mler Ife Dada a desenhar um distinto perfil para a música moderna lusa (e que, sob diferentes ângulos e iluminações, inspiraram também o eixo FlorCaveira/Amor Fúria), manipulam, desfiguram, realinham e fragmentam abstracções digitais, enovelam melodias, perplexidades e distorção, e, um pouco à maneira rigorosamente caótica de uns Animal Collective, inventam um privado e luminoso labirinto sonoro onde já começa a ser perigosamente apetecível perder-se. É diamante ainda em bruto de cuja lapidação – a ser realizada com precaução mas não exagerado desejo de perfeição – bem poderá resultar mais uma jóia da coroa.
(2011)
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