SUAVES VAPORES
Las Rubias del Norte - Ziguala
As Rubias del Norte são duas: uma é loira e a outra é morena. A loira chama-se Allyssa Lamb, a morena, Emily Hurst, e são ambas americanas, de Brooklyn, Nova Iorque. Encontraram-se na New York Choral Society e, não excessivamente entusiasmadas com o reportório clássico, sonharam com a música de um universo paralelo “onde o rock’n’roll nunca tivesse existido” e “a música latina dominasse a pop do mundo inteiro” tal como, em boa medida, sucedia entre os anos 30 e 50 do século passado. Rumba Internationale (2004) e Panamericana (2006), rotas de desvio estético-geográfico de boleros, valsas peruanas, "huaynos" chilenos e "guajiras" cubanas, levaram esse programa à prática, mas com Olivier Conan na tripulação - francês à solta em Brooklyn, responsável pela editora e clube Barbès e inventor dos Chicha Libre, máquina de triturar tropicalismos andinos, Vivaldi, Satie, Ravel e Joe Dassin –, dificilmente se ficariam por aí.
Muito naturalmente, então, Ziguala enrola órgãos Farfisa, congas, quatro, marimbas, piano, vibrafone, surf guitars e o Parker String Quartet, cubaniza alegremente a "Seguedille", da Carmen, de Bizet, e aponta destemidamente temas de Bollywood a sul do Texas, ao mesmo tempo que reconfigura "J’Attends Un Navire", de Brecht/Weill, ao modelo Latin-lounge, reggaefica "Porque Te Vas" e, sem rodeios demasiados, procede de igual e descontraído modo em relação a clássicos da "rebetika" grega ou a canções populares napolitanas. Há década e meia, em pleno boom do revivalismo "easy-listening", as Rubias poderiam ter desfrutado do momento eleito para espalhar os seus suaves vapores de ecletismo neo-latino pelas tribos de hedonistas ociosos. Hoje, em conjuntura menos favorável, serão apenas uma óptima escolha para casinos chiques e bares de hotel criteriosos.
(2011)
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