THE PAST IS NOT THROUGH WITH US
Trembling Bells - Abandoned Love
O folk-rock britânico do final dos anos 60/início de 70, do século passado foi tão densamente rico e ocupou tal variedade de territórios – da folk britânica propriamente dita às suas extensões no continente norte-americano, à modernidade eléctrica ou à "música antiga" – que complicou muito seriamente a tarefa de quem, futuramente, pretendesse apresentar-se como legítimo candidato à sua herança. Simplificando um pouco abusivamente, de um trio que incluiu os Fairport Convention, Steeleye Span e Pentangle e que deu origem posterior a obras como as de Sandy Denny, Richard Thompson (com e sem Linda Thompson), Maddy Prior, Bert Jansh ou Martin Carthy ou a explorações mais ou menos heréticas da "morris dance" ou do English Dancing Master, de John Playford, com incursões por vanguardas (termo, obviamente, antigo) avulsas, só muito dificilmente seria de esperar que os putativos continuadores estivessem à altura dos mestres. E, com raríssimas excepções (assim, de repente, só uma: as Unthanks), entre a paródia "freak-folk" e gente diligentemente esforçada como Alasdair Roberts e os Espers, o único confesso discípulo justamente notável (no caso, do tutor Richard Thompson), acabou por emergir em área diversa, chamou-se Peter Buck e continua a integrar os R.E.M. Os Trembling Bells, umas valentes décadas depois, têm o currículo certo (outra vez, do "experimentalismo" que “The Wire” aprova, do baterista e compositor, Alex Neilson, à formação vocal em "early music" de Lavinia Blackwell), mas, por muito que estiquemos a benevolência, não são senão muito compenetrados clones – isto é quase, quase um louvor – do lugar geométrico onde os Fairports tropeçam nos Steeleye e geram descendência. São, seguramente, bons, mas não impedem de recordar a frase de P. T. Anderson em Magnolia: “We may be through with the past but the past is not through with us”.
(2011)
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