14 December 2010

NÃO PARTICULARMENTE ÓPTIMO


Brian Eno - Small Craft On A Milk Sea

Não há-de existir muita gente que ainda necessite de ser formalmente apresentada a Brian Eno. Desde as flamejantes aventuras glam dos anos 70, ao comando da nave Roxy Music, passando pela reinvenção d’après Satie da música “ambiente”, pela prática do "sampling", com David Byrne, antes de a própria designação existir (My Life In The Bush Of Ghosts, 1981), pela teoria/prática do "avant-rock", evitando cautelosamente as piores armadilhas do prog, até à colaboração na qualidade de produtor dos mais sonoros nomes da pop/rock em busca de credibilidade arty (U2, Depeche Mode, James e – sim, ninguém é perfeito – Coldplay), o mais celebrado par de hemisférios cerebrais do universo pop, lendário Príapo e actual conselheiro para a juventude (seja isso o que for) dos Liberais Democratas britânicos, é, indiscutivelmente um dos "elder statesmen" desse imenso tubo capilar que, durante as últimas décadas, colocou em comunicação permanente “alta” e “baixa” culturas, vanguardas e tabelas de vendas, música e condomínios artísticos limítrofes, actividade prática em regime workaholic e teorização compulsiva.



Serve isto para explicar que – mesmo não existindo nenhuma espécie de contemplações para com as proverbiais vacas sagradas – nunca será de ânimo leve que se poderá afirmar que uma obra de Brian Eno não é particularmente óptima. É esse, no entanto, o caso de Small Craft On A Milk Sea. Criado a seis mãos com Jon Hopkins e Leo Abrahams e, parcialmente, incluindo faixas não utilizadas na banda sonora de The Lovely Bones, de Peter Jackson, o álbum de estreia de Eno na editora Warp (de certo modo, uma filha espiritual do Eno-electrónico) é apenas um conjunto de muito menores deliquescências quase new age e três ou quatro momentos de mais intensa animação rítmica e textural que, porém, não chegam para o fazer descolar.

(2010)

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