O PERIGO DE SER MODERNO
Bryan Ferry - Olympia
Ninguém como Bryan Ferry (nos Roxy Music ou a solo) levou tão a sério o célebre aforismo de Oscar Wilde “só mesmo as pessoas superficiais não julgam pelas aparências”. O que, das capas de álbuns com deslumbrantes ensaios fotográficos "kitsh" de supermodelos ao sarilho em que, há três anos, se embrulhou devido a, muito candidamente, ter declarado quanto o fascinava a estética nacional-socialista de Albert Speer e Leni Riefenstahl – posteriormente, justificou-se alegando que é um absurdo confundir ideologia com estética –, nunca deixou de levar à letra e praticar. Oriundo do que, supostamente, deveriam ter sido as sessões de estúdio de um álbum de reunião dos Roxy, Olympia não se afasta desse rumo: se a imagem de Kate Moss, no rosto do CD, constitui uma homenagem à Olympia, de Manet (e não será também, sabe-se lá, genuflexão perante o Olympia, de Riefenstahl?), lá dentro o chuveirinho de citações prossegue, de "Tender Is The Night" (cortesia de Scott Fitzgerald) a "Alphaville" (de umas bobines de Jean-Luc Godard). A questão é que, onde tudo é – ainda que só aparentemente – apenas superfície, essa superfície tem a obrigação inegociável de ser absolutamente imaculada. E a de Olympia é tudo menos isso: a pose de requintado "lounge lizard", escorrega excessivamente no "faux"-funk de casino, o elenco de "guest-stars" (de Jonny Greenwood a David Gilmour, Flea, Nile Rodgers, Scissor Sisters e todos os ex-Roxy) empastela originais e versões (o massacre de "Song To The Siren" é atroz) e, tudo somado, fica somente uma vaga memória difusa do que foi o inventor da tribo “New Romantic”. Conviria recordar-lhe que Oscar Wilde também gostava de dizer que “o perigo de ser moderno é que podemos tornar-nos antiquados em qualquer momento”.
(2010)
2 comments:
Vou ver se o saco antes que Obi One feche a torneira.
Os ex-roxy andaram nisso? não é o Mackay que tem um bonito disco feito na China?
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