25 June 2010

PORQUE SE CHAMA "ARTISTAS INDEPENDENTES"
EXACTAMENTE AOS QUE DEPENDEM DE SUBSÍDIOS?




Artistas independentes são quem mais vai sofrer com os cortes

(2010)

8 comments:

Anonymous said...

não será pela mesma razão que se fala de rigor nas finanças publicas, de verdade na política ou de pedagogia na educação?
independentes é só pra indicar a falta de capacidade artística das criaturas. eles são artistas independentemente de tudo o resto.

João Lisboa said...

"independentes é só pra indicar a falta de capacidade artística das criaturas"

Não necessariamente. Alguns dos que se deixam designar como "independentes" até não lhes falta tal. Agora, se dependem, de facto, de subsídios do ministério da cultura para existirem, a classificação como "independentes" é que é bizarra. Até porque a dependência do subsídio acaba, inevitavelmente, por trazer agrafadas outras dependências.

o mesmo anónimo said...

Tenho que reconhecer que assim é: estava a ser mauzinho.
Então eles serão talvez independentes do público. Mesmo sem público continuarão a ser artistas até ao esgotamento dos fundos de beneficência cultural.
E que outras dependências vêm "agrafadas" à primeira? Será que "dependências leves" trazem consigo o riso das "dependências pesadas"?

João Lisboa said...

"Será que "dependências leves" trazem consigo o riso das "dependências pesadas"?"

Voilá.

João Lisboa said...

Era "risco" em vez de "riso", não era?

Anonymous said...

era, era.

FF said...

Da mesma maneira que se diz "trabalhadores independentes" para os mais precários de todos, aqueles que passam recibos verdes. No teatro e na dança, os que não são independentes são os que são financiados sem concurso pelo estado, como os teatros nacionais. As companhias de teatro independente surgidas no início dos anos 70 definem-se por oposição aos teatros nacionais e aos comerciais.
É preciso ter cuidado quando se associa "dependência" a "subsídios", para dar a famosa "subsidiodependência" tão criticada pelos nossos opinion makers que nunca põem os pés num teatro. A própria ministra, na proposta que faz de transformar os "subsídios" em "contratos", cai nesta armadilha retórica. A política que propõe é perigosa e não fará mais do que passar uma responsabilidade que é do estado para uma edénica rede de cineteatros, dominados por programadores iluminados transformados em júris de financiamento. E quando vem dizer que, como artista, nunca pediu um subsídio (para quê, para lhe emprestarem um piano?) deve estar a brincar.

João Lisboa said...

"As companhias de teatro independente surgidas no início dos anos 70 definem-se por oposição aos teatros nacionais e aos comerciais"

Claro que sei isso. A minha questão é apenas de linguagem: porquê chamar "independente" a instituições e pessoas que dependem irremediavelmente do Estado? É um bocado como aqueles putos que desejam afirmar muito a sua "independência" em relação aos pais mas abdicar da mesada nem pensar.

Por outro lado, essa ideia de "oposição aos teatros nacionais e aos comerciais" parece-me tola de raiz: "oposição" porquê? Não sou consumidor de nenhuma das três opções - com raríssimas excepções, não gosto de teatro, nacional ou internacional - mas por que motivo "opor-se" a companhias que praticam um reportório tendencialmente "clássico" (os nacionais) ou que se auto-sustentam (os "comerciais" que, insistindo na questão da linguagem, são os realmente independentes)? Basta que os "outros" façam o seu trabalho de acordo com os critérios estéticos que preferem, não tem que haver "oposição".

"É preciso ter cuidado quando se associa "dependência" a "subsídios", para dar a famosa "subsidiodependência" tão criticada pelos nossos opinion makers que nunca põem os pés num teatro"

Eu sou dos que "(quase) nunca põem os pés num teatro". :) Mas, nas poucas vezes em que ponho, nunca os pus nos La Ferias desta vida, e já pus umas quantas vezes, por exemplo, no Bando. E, quanto à política de "passar uma responsabilidade que é do estado para uma edénica rede de cineteatros, dominados por programadores iluminados transformados em júris de financiamento", o pior dela parece-me ser apenas manter tudo exactamente na mesma: tanto faz que os "júris iluminados" estejam alojados no Estado central ou sejam relocalizados como programadores locais. O princípio mantém-se.

Dito isto, nem sou, em princípio, contra a subsidiação pelo Estado das actividades culturais. Mas, pelo menos, três coisas, parece-me que deveriam ser feitas:

- diminuição séria do número de projectos subsidiados;

- correspondente aumento do montante dos subsídos aos que fossem escolhidos;

- medidas muito concretas de estímulo à possibilidade do mecenato.

E deixem lá de lhes chamar "independentes"...

:)