19 April 2010

NEBLINA ESPESSA



Holly Miranda - The Magician’s Private Library

No papel, até pareciam existir muitos dos ingredientes para uma óptima história: jovem vítima da tirania teológica de uma família fundamentalista escapa-se das masmorras domésticas, abdica de dissimular a sua preferência lésbica, chega à Brooklyn-onde-tudo acontece, e – após o obrigatório estágio punk em The Jealous Girlfriends – é acolhida, de braços abertos pelos TV On The Radio. David Sitek produz-lhe o álbum de estreia com o resto da banda na qualidade de "session musicians" privativos e elementos da Antibalas Afrobeat Orchestra a oferecer os sopros. O próprio nome – Holly Miranda – era bom e a pinta de P. J. Harvey "barely legal" ajudava. O necessário para um disco promissor é que, aparentemente, faltava: a confessada tendência de Sitek para o "overproducing" submerge todos os temas naquele tipo de espessa neblina que poderia ocorrer se Angelo Badalamenti e os Cocteau Twins soprassem, em simultâneo, sobre o Hudson, e a pesada quadratura rítmica liquida qualquer hipótese que Holly poderia ter de sonhar com o estatuto de suplente de Hope Sandoval. Na realidade, descobri-la e às canções por entre cenário tão sobrecarregado é missão praticamente impossível.

(2010)

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