24 March 2010

YOU KEEP ME HANGING ON
(em sequência daqui)



Portico Quartet - Isla

Segundo reza a lenda (ainda uma pequena lenda doméstica que se agigantará ou não), da primeira vez que, numa gélida noite de Novembro, na Southbank de Londres, os percussionistas Nick Mulvey e Duncan Bellamy se entregaram à mui nobre e vetusta arte do busking – isto é, a de músicos de rua – a aventura rendeu-lhes oitenta libras. Uma fortuna comparada com o miserável fiver que Milo Fitzpatrick (o contrabaixista) e Jack Wyllie (saxofonista) recolheram, numa esquina próxima. Mais importante, no entanto, seria a reunião dos quatro sob a designação de Portico Quartet que, em dois álbuns – a estreia, Knee-Deep In The North Sea, de 2007, e, agora, este Isla –, os conduziria do "trottoir" (sem ofensa) londrino à shortlist do Mercury Prize.



Coisa não exactamente habitual numa banda que se reclama do legado musical de Reich e Glass, obliquamente, de um jazz tão livre quanto polidamente “moderno” (aqui, a referência mais imediatamente próxima só poderá ser a Cinematic Orchestra) e de uma multiplicidade de referências mais ou menos “étnicas”, dos gamelãs do Bali às estruturas cíclicas de alguma música africana. Papel central, segundo os próprios, desempenhará o "hang", um híbrido de "steel-drum" e gamelã de origem suiça e recentíssima, embora de modo muito menos vincado em Isla. Encontra-se, sem dúvida, presente e, em diversos momentos, é-lhe, de facto, confiado o papel de reorientador e ordenador da arquitectura sonora mas, pelo menos tão decisivo, é o evidente desejo de explosão combinada do sax de Wyllie e das percussões, alimentados pelo desenho tenso e sinuoso das cordas de Fitzpatrick, em momentos de libérrima improvisação. É esse o melhor Portico. Porque, quando apaziguado, cinematicamente decorativo, burguesmente “ambiental”, o quarteto escorrega, facilmente, para a "coffee-table-music".

2 comments:

Manuel said...

não sei como foi o concerto no São Luiz mas o de Espinho foi muito "apaziguado, cinematicamente decorativo, burguesmente “ambiental”, o quarteto escorrega, facilmente, para a "coffee-table-music"".enfim, foi simpático
manuel carvalho

João Lisboa said...

... pois...