08 February 2010

A REGRA, O CÓDIGO, A SINTAXE



Ricardo Rocha - Luminismo

Que se pode esperar da música de um executante/compositor de guitarra portuguesa que repete obsessivamente que não tem nenhuma paixão pela guitarra, que – à excepção das tentativas de Carlos Paredes e Caldeira Cabral – nunca existiu nem existe nenhuma linguagem musical para ela no século XX, que “já não é possível fazer nada de diferente numa grelha de doze sons”, que “abomina” o seu tempo e que “gravar é completamente inútil”? Provavelmente, algo como este Luminismo (quase um segundo volume do anterior Voluptuária), brilhante e virtuosíssimo exercício interpretativo de temas próprios e de Paredes e Cabral, no primeiro CD, e, no segundo, colecção de peças para o piano de Ingeborg Baldaszti, algures entre o simbolismo místico de Scriabin e a ponte que ele lançou (e Ricardo atravessa decididamente) para o território do serialismo, aqui cavado de silêncios, minuciosamente filigranado, como que uma sucessão de gestos arrebatadamente românticos mas severamente disciplinados pela regra, pela obediência aos códigos idiomáticos e à racionalidade da sintaxe.

(2010)

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