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Laia - Viva Jesus E Mais Alguém
As personagens: um cabo-verdiano devorador de bossa-nova (Milton Castro) e um marialva punk com patilhas até ao peito (Hélder Almada). O conceito: uma dupla memória carregada de audições de Fausto, Brigada Vítor Jara, Ronda dos Quatro Caminhos, Gaiteiros de Lisboa e Carlos Paredes desejosa de injectar aí a espessura eléctrica do pós-rock. Estratégia: “instrumentos alterados, gravados para um computador em freguesias cosmopolitas”, entre Santa Maria dos Olivais, Santa Maria (Ilha do Sal), e Grafanil.
Funciona? Sim, por vezes, ainda com colagens e raccords excessivamente abruptos a denunciar uma técnica de transplante com problemas localizados de rejeição, mas, de um modo geral, rasgando uma via potencialmente acolhedora para o encontro da guitarra portuguesa com a galáxia-Mogwai/Godspeed e de ambas com o "spoken word" e a cava percussão dos adufes beirões. Algures a meio do Atlântico, numa espécie de anti-triângulo das Bermudas, onde nada é sugado para a inexistência e tudo é regurgitado para as alturas, em agradavelmente surpreendentes configurações.
(2010)
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