13 January 2010

DAS VIRTUDES DA SELECÇÃO NATURAL



Espers - III

Abençoado seja Charles Darwin! A selecção natural é, de facto, um processo sem o qual este mundo e, provavelmente, também os outros, seriam ainda bem piores. E que, mesmo nos nichos ecológicos mais geneticamente desfavorecidos, consegue operar pequenos milagres de identificação dos mais aptos. Tome-se, por exemplo, o caso do "freak-folk": à partida, dir-se-ia que, de um acampamento de maltrapilhos, perdidos entre a última "bad trip" de Syd Barrett, o colar de missangas de Donovan e os restos do estufado de tofu que Jimmy Page deixara colados às páginas do Book Of Thelema, de Aleister Crowley, dificilmente poderia sair coisa decente. Com o tempo, no entanto, do infecto caldo cultural, seres pluricelulares dotados de um módico de inteligência e sensibilidade acabaram por emergir.



Os Espers são uma das provas mais significativas. Recordam-se como os Fairport Convention iniciais imaginavam ser os Jefferson Airplane britânicos? Pois é justamente nesse interstício Fairport-Airplane que, ao terceiro álbum, a banda de Meg Baird, Greg Weeks e Helena Espvall labora. Claro que Meg não é Sandy Denny nem Grace Slick, e Greg ainda tem de roer muita côdea de pãozinho integral para sonhar caminhar na sombra de Richard Thompson ou Jorma Kaukonen. Mas, se recordarmos as humildes origens, até nem se saem nada mal.

(2010)

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