MY SAD AND FAMOUS SONGS
Leonard Cohen - Live At The Isle Of Wight 1970
“Sempre senti uma certa irmandade com o que se passa em todas as épocas. Mas a verdade é que nunca estive (e continuo a não estar) no centro dos acontecimentos. Senti-me próximo da 'beat generation' e, apesar de não ter feito, realmente, parte dela, conheci Ginsberg, Kerouac e Corso. Antes deles, também me dava com aqueles a quem chamávamos os ‘boémios’, frequentava os seus cafés em Montreal, embora não fosse um deles. Os hippies não me interessaram especialmente, em particular, quando começaram a poluir os rios e a deixar lixo por todo o lado, quando iam para o campo adorar Deus e a Natureza. Eram péssimos campistas! Eu, que fui escuteiro, posso dizê-lo...”, disse-me Leonard Cohen, vinte e quatro anos depois de ter actuado no festival da ilha de Wight, perante uma matilha de meio milhão de hippies raivosos contra a feroz "exploração capitalista" que lhes cobrava a exorbitância de meia dúzia de libras por seis dias (de 26 a 31 de Agosto) em que escutaram, ao vivo, Kris Kristofferson, Gilberto Gil, John Sebastian, Joni Mitchell, Miles Davis, Sly & The Family Stone, Family, os Who, os Pentangle, Richie Havens e Jimi Hendrix, entre outras menoridades (porém, maioridades, à época) como Donovan, Moody Blues, Doors, Chicago, Ten Years After, Emerson, Lake & Palmer, Free, Jethro Tull e tutti quanti.
O p.o.v.o. revolucionário estava em fúria, uivava perante os portões fechados, mas, pelas quatro da matina, um Leonard Cohen acabado de acordar, severamente encardido – ao lado de Corlynn Hanney, Susan Musmanno e Donna Washburn, impecavelmente maquilhadas -, e uma banda de country-folk capaz de humilhar toda a seita "psych" contemporânea, pouco depois de ver acrescentadas labaredas amotinadamente reais ao palco a que, antes, Hendrix lançara fogo musicalmente metafórico, domesticou, facilmente, as hostes. “They gave me some money for my sad and famous songs, they said the crowd is waiting, hurry up or they’ll be gone, but I could not change my style and I guess I never will, so I sing this for the poison snakes on Devastation Hill”. "Devastation Hill" (nome oficial: "Desolation Row") era o nome do acampamento dos "radicais livres", que o documentário de Murray Lerner (DVD e CD gémeos) ilustra em toda a sua suja realidade. Levaram com Diamonds In The Mine. E com quase todo o Cohen de rasgar as veias da época – entre Songs Of Leonard Cohen e Songs Of Love And Hate. E calaram-se. Como deviam. Hoje, os mesmos, acham-no um "cantor de charme".
(2009)
19 November 2009
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2 comments:
Hoje, os mesmos, acham-no um "cantor de charme".
Quem estava no "centro" acabou afogado nas margens.
A era de Aquário, só em 2600.
Yup.
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