24 November 2009

E, A POUCO E POUCO, UM POR UM, OS RATINHOS VÃO SAINDO DA TOCA



"[António Vaz Carneiro, director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência] Defendo apenas a vacinação de grupos de risco muito selectivos. Fundamentalmente porque acho que esta doença não tem gravidade suficiente que justifique a vacinação maciça. Entendo que, como neste momento o impacto global da doença na população portuguesa, comparando com outras, não é tão importante como isso, então a despesa envolvida não se justifica. É só nesta altura que uso o argumento do dinheiro. Há quem calcule que o gasto [todos os custos com a doença] já ascende a 67 milhões de euros. Não é razoável. Então os portugueses continuam a morrer tranquilamente de doenças cardiovasculares e estamos todos preocupados com a gripe?

Acha, portanto, que o investimento que se fez nesta vacina (45 milhões de euros) não se justifica?
Na minha opinião, não.

A verdade é que a maior parte dos governos nos países ditos civilizados aderiram a uma vacinação em massa. Porque terá isto acontecido, então?
Este é o case-study mais interessante que os media podiam e deviam estudar. Os governos reagiram hipervalorizando o risco. Foram decisões políticas.

Mas foi a OMS que declarou a pandemia de gripe e a sua posição foi determinante para que se chegasse ao cenário actual.
Sim, mas a OMS, na minha opinião, sai muito chamuscada desta situação. A posição da OMS é insustentável, errada. O impacto desta doença é pequeno e os recursos são escassos. Então vou eleger como prioritário, como problema central da minha política, o problema da gripe? Agora, quando todos os governos decidem comprar maciçamente vacinas é muito difícil que o Governo português não o faça também. A minha crítica é que isto vai provocar uma disrupção na comunidade, o que é inaceitável.

E o papel das autoridades de saúde?
As autoridades não foram capazes de desdramatizar a situação, entraram num comboio que não conseguiram parar e neste momento há problemas fascinantes como o da França - que encomendou 90 milhões de doses - e está a tentar desesperadamente colocar no mercado mundial 45 milhões de doses, porque só 50 por cento dos franceses se vão vacinar. Entraram por um caminho sem retorno. (aqui)



O presidente da Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, não concorda com a vacinação em massa e não vai vacinar-se: "Se não me vacino habitualmente para a outra [a sazonal] porque é que me vou vacinar para esta, que sei que não é mais grave?". "Acho que houve um alarmismo exagerado e um certo aproveitamento político", defende. Se a taxa de adesão continuar a ser inferior ao que se esperava - não só do lado dos profissionais de saúde, mas também da população em geral -, o médico deixa uma questão face à possibilidade de sobrarem metade das vacinas: "Quem vai ser responsabilizado por ter mandado para o lixo 22,5 milhões de euros [Portugal encomendou seis milhões de doses no valor de 45 milhões de euros]?" (aqui)

... e nunca será demais (re)passar por aqui.

(2009)

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