02 November 2009

DARWIN NO CAMPO PEQUENO



22.10.09

Em pleno ano-Darwin, houve ali qualquer coisa de afirmação darwinista: não foi, de certeza, por acaso que, ao palco do Campo Pequeno, na semana passada, subiram Sérgio Godinho, José Mário Branco e Fausto e não muitos outros da mesma fornada de cantautores portugueses que o início da década de 70 do século passado viu surgir. O que, aliás, ajuda bastante a varrer logo o lugar-comum-pronto-a-usar dos “dinossauros”: esses extinguiram-se; Godinho, Branco e Fausto – a solo, em trio ou em duo – quarenta anos depois, permanecem musicalmente vivos e férteis, desejosos de tudo menos de transformar aqueles “Três Cantos” num coro de carpideiras nostálgicas. E, sim, sem quaisquer dúvidas, são eles os três mais aptos sobreviventes dessa geração. A bússola política, não exactamente coincidente em todos, poderá ser discutível (eles, provavelmente, dirão que deverá ser discutida), mas o nervo, o músculo e a inteligência da música que criam, não. Particularmente (ainda que com um som bastante menos do que perfeito), a partir do momento em que Fausto, com “Eis Aqui o Agiota”, “Adeus Orelhas de Abano” e “A Nova Brigada dos Coronéis de Lápis Azul”, imprimiu um safanão quase "punk-folk" ao andamento do concerto, mas também nas belíssimas harmonias e contraponto vocais (“Canto dos Torna-Viagem”, em especial), em alguns soberbos arranjos para os sopros da "big-band" que os acompanhou ou mesmo no instante-máquina-do-tempo (logo a seguir a um “Que Força É Essa”-murro no estômago), quando o “Hino da Confederação” ameaçou fazer regressar a vetusta praça de touros a 1975. Intuição genial a de Sérgio Godinho ao ter chamado ao seu álbum de estreia (onde ele e José Mário se encontravam)… “Os Sobreviventes”.

(2009)

3 comments:

Anonymous said...

"ainda que com um som bastante menos do que perfeito"

No Coliseu do Porto é que deve ter sido o banquete

João Lisboa said...

"No Coliseu do Porto é que deve ter sido o banquete"

Ainda há bocadinho me disseram que sim.

vanessa said...

caro joão,

chateia-me discordar de si porque, em boa verdade, tendo a dar-lhe razão mais vezes do que costumo gostar.
mas permita-me: darwin extinguiu o júlio pereira?