SANGUE POLAR
Hanne Hukkelberg - Blood From A Stone
Em 2007, Hanne Hukkelberg tinha acabado de editar Rykestrasse 68 e caracterizava a sua atitude perante a criação musical assim: “Quando estou a compor, penso de uma forma muito visual, crio imagens e filmes na minha cabeça acerca das músicas que vou compor e da direcção em que as vou conduzir”. O que, na altura, tanto valia para esse álbum como para o anterior Little Things (2005), duas preciosas jóias de relojoaria sonora que, integrando instrumentação convencional e "found sounds" diversos, acolhiam microuniversos que apenas se deixavam infinitamente revelar após prolongado e atento convívio. Em Blood From A Stone, talvez se possa dizer que – se nada de verdadeiramente radical aconteceu relativamente ao modus operandi – Hanne Hukkelberg passou a pensar as canções mais exactamente enquanto canções e, sem lhes amputar a dimensão visual, é, agora, uma lógica propriamente musical que comanda todo o processo.
Na origem, terá estado a velha paixão adolescente pelos Pixies – dos quais, em Rykestrasse 68, já incluíra uma versão de "Break My Body" –, por Siouxsie & The Banshees e, acrescentaria eu, o lado menos véus-e-rendas dos Cocteau Twins. Gravado na ilha de Senja, na costa noroeste da Noruega, e voltando a contar com a colaboração do fidelíssimo produtor Kåre Vestrheim, é um pouco como se a atmosfera polar tivesse puxado para a superfície o lado mais agreste e angulosamente art-punk de Hukkelberg – os "found sounds" (frigoríficos, fogões, pedras) permanecem mas solidamente embutidos na arquitectura global –, acentuando asperezas e um ímpeto rítmico primordialmente visceral.
(2009)
28 September 2009
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