23 August 2009

INDIE (DE "INDUSTRIAL")



Florence + The Machine - Lungs

Florence Welch tem, de facto, atrás de si, uma máquina. Que, mesmo nestes anos do estertor final da indústria discográfica dominada pelas majors tal como as conhecíamos (à indústria e às majors), continua a carburar de acordo com as antigas normas e ainda mantém o engenho suficientemente lubrificado para, aqui e ali, ir produzindo resultados. No caso de Florence, o design do projecto é absolutamente transparente: conceber um "ersatz" de estrela indie com motor turbo industrial. Calculado ao pormenor, diga-se. Primeiro, a biografia: filha de Evelyn Welch – historiadora de arte norte-americana e habituée do Studio 54 – e do publicitário Nick Welch, com infância e juventude protegidas mas apropriadamente "perturbadas" e passagem pelo Camberwell College of Art no currículo, o que fica sempre bem no retrato de uma "would-be-pop-star" com pedigree. Naturalmente, alguém cuja mãe-historiadora de arte baptizou como Florence só poderia ser devota da arte do Renascimento italiano e, em particular (oh quão popmente conveniente!), da Circuncisão de Cristo, de Mantegna. Ou assim os "spin doctors" discográficos nos pretendem fazer crer.



A composição da personagem pula, depois, sem grandes sobressaltos, para um registo pré-rafaelita destrambelhado com imprescindíveis laivos "góticos", referências dispersas a Edgar Allan Poe e Tim Burton e a informação adicional de que Miss Welch iniciou a carreira cantando em casamentos e funerais de família, "mas especialmente, funerais". Nada disto teria o mínimo problema – indústria é indústria e, de Tin Pan Alley aos ABBA, muito devemos à pop industrial – se Lungs fosse luva de dimensão adequada a esta mão e, como nos garantem, descendente directo de uma ilustre linhagem que incluiria Nick Cave, Tom Waits, Björk, Kate Bush e Siouxsie. A última, conceda-se, é marginalmente plausível: "Kiss With a Fist", o primeiro single, é uma tentativa, vá lá, decente, de cruzar os Banshees com os White Stripes. Bastante mais difícil é engolir que, de um composto de "riot grrrl" pop caricatural, garage rock com esteróides, soul-baunilha e os menos recomendáveis traços de uma Patti Smith de cartoon, todos cerzidos em canções com títulos como “Cosmic Love” ou “My Boy Builds Coffins”, possa resultar algo de vagamente associável ao quinteto supra mencionado e não apenas uma ruiva, giraça, de pernas até ao pescoço e com um vozeirão que berra histórias de lobisomens e corações em sangue.

(2009)

3 comments:

João Lisboa said...

... ?...

Anonymous said...

um claro caso de spam in blogs

Anonymous said...

Ηence, thee title remains - Swiss army knife”.