24 June 2009

KODACHROME (1935 - 2009)



A sua cor era densa, de textura granulosa, de resolução super e de latitude à exposição generosa. Podia fotografar-se com luz a menos, que na hora da impressão estavam lá os detalhes nas sombras, as nuances nas cores. A vida ficava naquela emulsão não tal qual era, mas como num mundo perfeito. A durabilidade das cores permitia conservar as imagens por muitos anos, quase sem alteração. Os profissionais da National Geographic terão sido os melhores publicitários desta emulsão que tornava as fotografias transparentes (slides) e projectáveis em telas de grandes dimensões. (...) Usar um kodackrome era um ritual. Começava na hora de o comprar: era caro, demasiado caro para amadores vulgares, tramava os orçamentos dos editores mais abastados. A revelação exigia cuidados de grande rigor, logo não era possível ser revelado na maioria dos países onde era comprado. Quase todos os filmes eram revelados na América, alguns na Suíça. Mais alguns países dispunham da poção mágica da Kodak para revelar. Esperar três semanas por um trabalho que tinha custado caro no investimento da película, era um longo sofrimento, uma grande ansiedade. Há 20 anos os correios nem sempre eram rápidos e a forma de controlar as encomendas ainda mais aleatórias do que hoje. Os envelopes postos à disposição para o envio dos filmes eram especiais, fornecidos pela Kodak, com avisos no exterior a dizerem que dentro ia a película Kodachrome. (...) O Kodackrome acabou depois de uma longa agonia. A realidade superou o sonho: os profissionais que sempre usaram a película, foram confrontados nos últimos 5 anos com câmaras fotográficas profissionais com sensores de qualidade extraordinária e que superaram, sem polémicas, a qualidade da película (...) Depois desta realidade só mesmo a sua morte. Anunciada, nostálgica e triste. (texto integral de Luis Carvalho aqui)

(2009)

2 comments:

Unknown said...

... Detesto ter que viver nestas décadas...

nassar said...

Paul Simon, o Chico Buarque americano, na minha playlist, em repeat, sempre. Está para o Garfunkel como o kodachrome está para a chapada nas trombas.