04 May 2009

PSEUDÓNIMOS, HETERÓNIMOS,
NOMS DE PLUME & ALTER EGOS



The Weatherman - Jamboree Park at the Milky Way




Old Jerusalem - Two Birds Blessing

Impossível. Completamente improvável. Absolutamente fora de qualquer cálculo de probabilidades credível. Após um tão prolongado plano inclinado criativo e meia dúzia de pastelões de cimento armado “neo-clássico”, ninguém apostaria um cêntimo em como, ainda um dia, Paul McCartney seria capaz de voltar a gravar um álbum de pop decente e enxuta, que não o fizesse corar de vergonha perante o que de melhor criou com os Beatles. Inesperadamente, no entanto, ei-lo! E, tal como fizera já com Electric Argument, assinado (a meias com Martin Glover/Youth) sob o pseudónimo The Fireman, desta vez, optou por inventar a personagem de um “youth” do Porto, baptizou-o “Alexandre Monteiro”, bordou-lhe também o alter ego não excessivamente distante, The Weatherman, e, como quem não quer a coisa, lançou ao mundo Jamboree Park at the Milky Way. Não incorpora nada de realmente novo que não conhecêssemos já em Sir Paul – à parte uma ou outra inalação da atmosfera Arcade Fire – mas, vindo do supostamente exausto sexagenário de Liverpool, não deixa de ser uma boa surpresa.



Aliás, alguma coisa isso terá, certamente, a ver com a histórica anglofilia portuense. Porque, agora, em declinação norte-americana, também Will “Bonnie Prince Billy” Oldham, Devendra Banhart, Bill Callahan, Damien Jurado e Bon Iver congeminaram uma compilação de inéditos de todos eles e – aparentemente, o método está a conquistar adeptos – decidiram atribuí-la ao "nom de plume" colectivo Old Jerusalem, para o qual urdiram a biografia de um imaginário “Francisco Silva”, economista portuense, quem sabe se a pensar colarem-se inviamente ao mito do pluralíssimo Fernando Pessoa lisboeta de quem Patti Smith tem sido tão devotada prosélita na cena indie dos EUA. As marcas da origem, porém, não enganam: estão lá os grandes espaços das paisagens do sul, as assombrações bíblicas e, curiosamente, algo a que ainda não se havia prestado a devida atenção – o confessionalismo pré-islâmico de Cat Stevens, inesperado "maître-à-penser" da maçonaria "alt.country/psych/freak/folk".

(2009)

3 comments:

pennac said...

Pois. O cabelinho à mano Gallagher não é só coincidência.

Calor Humano said...

Genial

Anonymous said...

lol... o texto é bom, mas o que está escrito é demente.