19.07.08: REWIND
Leonard Cohen - Live In London (CD e DVD)
Lou Reed - Berlin Live At St Ann's Warehouse
A noite de 19 de Julho do ano passado, em Lisboa, foi o momento de todos os dilemas: correr em direcção a Algés para assistir ao concerto da anunciada tournée de despedida de Leonard Cohen ou marchar sobre o Campo Pequeno, não perdendo a oportunidade (supostamente) única de estar presente na interpretação ao vivo de Berlin, de Lou Reed, pela primeira vez levado ao palco, após trinta e tal anos de maldição? Havia importantes factores de ponderação: por um lado, aos 74 anos, Cohen já não estava propriamente a ir para novo, a devoção roça perigosamente a irracionalidade (leia-se: o ancião Lenny, se lhe apetecer, até pode partilhar o microfone com Celine Dion que, aos ouvidos dos fiéis, isso nunca será menos que sublime) e despedida é despedida;
por outro, a lenda de Berlin é poderosa, Lou Reed, só por ele, já carrega aos ombros História pop suficiente para ser partilhável por várias gerações e as duas coisas juntas são tudo menos desprezáveis. É capaz de ter havido quem não tenha sido capaz de melhor do que a moeda-ao-ar. Alegando motivos de ordem religiosa, dirigi-me à beira-Tejo. Afinal, daqui por três meses e picos, Cohen estará de volta (acossado pela acústica assassina do Pavilhão Atlântico, é verdade) e Berlin pode, agora, ser tranquilamente apreciado (em disco e DVD) da perspectiva do sofá. O que, aliás – e, mais uma vez, coincidentemente – acontece também com os registos da digressão de Leonard Cohen. E, nestes (na O2 Arena, dois dias antes de Lisboa), nenhuma surpresa relativamente ao que vimos e escutámos naquele sábado, no passeio marítimo de Algés: o guião é idêntico, o oficiante da liturgia não foge à observação rigorosa de todos os passos rituais; apenas, lá como cá, naquele instante, ainda não se sabia quão longe poderiam chegar palavras como “everybody knows that the plague is coming, everybody knows that it’s moving fast".
Berlin, ao vivo na St Ann’s Warehouse, de Brooklyn, mostra-nos o outro lado “daquela noite”, tal como fora ensaiado, em Nova Iorque, em Dezembro de 2006: higienicamente despojado de muita da indesejável ganga orquestral da edição original, seco e atlético, com o fogo do "interplay" das guitarras de Reed e Steve Hunter a atear incêndios localizados e, no DVD (realizado por Julian Schnabel), a intromissão absolutamente desnecessária e escusada das imagens, redundantes e nem sequer “decorativas” – que, em palco, projectadas em fundo, poderão ter feito algum sentido mas que, aqui, actuam somente como ruído visual.
(2009)
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