DAS ASAS DA BORBOLETA
Kal - Radio Romanista
A borboleta bateu as asas pela primeira vez, em 1965, no Festival Folk de Newport. Dois anos depois, repetiu a graça, em Londres. Em 1982, já consideravelmente bebida, nem se apercebeu de que o tornado que desencadeara tinha deixado em cacos o mapa, até aí razoavelmente arrumadinho, dos povos, suas músicas e tradições. O heterónimo inicial da borboleta foi “Dylan”, o segundo – quando começou a optar pelos colectivos –, “Fairport Convention”, e o terceiro, “Pogues”. O vendaval, inevitavelmente, alastrou pelo planeta e chegou a lugares que sempre se imaginara imunes a tais fenómenos, de tal modo, aí, sempre haviam estado agrafadas a música e a identidade (seja isso o que for) nacional.
Radio Romanista é, agora, apenas um efeito colateral – mas um bom efeito colateral – daquele outro que conhecemos sob a designação de Gogol Bordello: não ucraniano/multinacional mas sérvio, embora igualmente gypsy-punk, optando pela designação Rock’n’Roma e tomando como modelo os Clash e o herói local Saban Bajramovic, é também higienicamente herético e impuro – os violinos, guitarras, acordeões e melodias ciganas coexistem em bela camaraderie com as Fender eléctricas, as beatboxes e os textos em roma, francês e inglês – ainda que (pelo menos, em disco) menos dionisiacamente excessivo que o dos irmãos do nordeste.
(2009)
1 comment:
«Tempo de Ciganos», ah, maravilha!!
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